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Piloto automático no Copom

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Por Redação
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Se nenhuma turbulência maior aparecer no radar, a estratégia de combate à inflação poderá ficar no piloto automático por uns três ou quatro meses. O especulador, assanhado nos últimos dias com um possível afrouxamento da política monetária, deve mudar seu jogo: os juros vão continuar elevados até o fim do ano e provavelmente em 2015, se os atuais critérios do Banco Central (BC) forem mantidos depois da eleição. Aviso complementar: a inflação ficará bem acima de 4,5%, a meta oficial, ainda por uns dois anos. As projeções para 2014 e 2015, tanto as oficiais quanto as do mercado, pioraram no último mês e meio. Isso resume a principal mensagem da nova Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada ontem, oito dias depois da última reunião. O comitê, responsável pela política de juros e de crédito, é formado por diretores do BC e reúne-se a cada 45 dias. Desta vez, a ata foi especialmente explícita ao excluir da estratégia, nos próximos trimestres, qualquer "redução do instrumento de política monetária".A referência aparece no parágrafo 31, quase no fim do texto. A taxa básica, a Selic, deve, portanto, continuar em 11%. Não se discute a hipótese de uma nova alta, mas o lance, por seus possíveis efeitos eleitorais, parece muito improvável nos próximos meses.A conversa sobre inflação em queda neste ano está arrefecendo até no primeiro escalão do Executivo. Ministros e funcionários importantes ainda insistiram nessa ladainha até há poucos dias, mas parecem ter desistido. A taxa prevista para o ano subiu de 5,6% para 6,2% no último relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas elaborado pelo Ministério do Planejamento.Não há muita diferença, nesta altura, entre as expectativas oficiais e as estimativas das instituições financeiras e das consultorias. A mediana das projeções do mercado recuou de 6,48%, em 11 de julho, para 6,44%, no dia 18, segundo a pesquisa Focus, do BC. Continua muito longe da meta e muito perto do limite de tolerância. Os consumidores também mostram pouco ou nenhum otimismo. A mediana de suas previsões para os próximos 12 meses baixou de 74,%, em junho, para 7,2%, em julho, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A queda é explicável, segundo o economista Angelo Polydoro, da FGV, pela "redução observada nos itens da alimentação". Mas a expectativa de inflação alta deverá manter-se por algum tempo, acrescentou. A mediana de 7,2% repete a de julho do ano passado e é bem mais alta que qualquer projeção registrada na pesquisa desde setembro de 2010.A expectativa do consumidor pode ser afetada pela percepção imediata de aumento ou redução de alguns preços, como os da alimentação, importantes no dia a dia. Mas a alta geral é um fenômeno complexo, determinado por vários fatores mais facilmente identificáveis por especialistas.Vários deles são apontados na Ata do Copom. Embora mais lenta, a expansão do crédito continua. O consumo das famílias, embora em ritmo também mais moderado, tende a continuar, apoiado no crescimento da renda e no financiamento. A inflação acumulada em 12 meses, ainda muito alta, continua a influenciar a remarcação de preços (aluguéis e salários, por exemplo), por meio da indexação. O mercado de trabalho permanece apertado e, "em tais circunstâncias, um risco significativo reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade". Além do mais, o ajuste de preços aos níveis internacionais e a recomposição de preços administrados tendem a pressionar os índices. Preços de combustíveis e de energia elétrica são exemplos facilmente identificáveis pelo leitor.Os autores da ata poderiam ter sido mais severos ao examinar a política fiscal. Reafirmam a expectativa de menor impacto inflacionário das contas públicas, mas a maior parte dos comentários sobre o tema continua no modo condicional.Não falta gasolina, portanto, para alimentar a inflação por longo tempo. A grande dúvida, nesta altura, é sobre como o governo - eleito ou reeleito - enfrentará a fogueira em 2015.