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Pior que o resto do mundo

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Por Redação
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Os dados já conhecidos fortalecem as projeções de que o comércio mundial fechará 2015 com um dos piores resultados dos últimos anos. A Organização Mundial do Comércio (OMC) vem fazendo sucessivas revisões, sempre para baixo, de sua projeção para a evolução do comércio mundial neste ano. A previsão inicial, de crescimento de 5%, foi revista para 4,3% e, depois, para 4%. A nova poderá ficar abaixo de 3%. Depois de ter crescido mais de 5% ao ano na década de 1990, o comércio deve apresentar, em 2015, o pior resultado desde 2009, ano da crise financeira mundial. O crescimento mais lento do volume e do valor das trocas internacionais é uma notícia ruim para o comércio exterior brasileiro. Mas, nesse cenário desanimador, o País consegue acumular resultados piores do que os da grande maioria dos principais exportadores do mundo. O Brasil não tem, no comércio mundial, presença proporcional ao tamanho de sua economia, respondendo por pouco mais de 1% do total comercializado. Com a crise econômica, a participação tende a cair. No ano passado, por exemplo, as exportações brasileiras foram as que mais caíram (redução de 7%) entre as dos 30 maiores países do mundo, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC). Por isso, o País caiu três posições no ranking dos maiores exportadores, de 22.º para 25.º lugar. Em 2015, o resultado pode ser ainda pior, pois, nos sete primeiros meses do ano, o total exportado (de US$ 128,35 bilhões) foi 16,7% menor do que o de igual período de 2014 (US$ 154 bilhões). O comércio mundial não vai muito bem, mas o comércio exterior brasileiro vai muito mal. Análises recentes estão constatando que o impacto da desaceleração da economia chinesa e da desvalorização da moeda local, o yuan, sobre o comércio internacional está sendo mais acentuado do que se previa. Grande exportadora, mas, sobretudo, uma das maiores importadoras mundiais de matérias-primas e commodities minerais e agrícolas, a China tem muito poder sobre o mercado desses produtos. Com a redução do ritmo de crescimento, sua demanda não cresce mais na velocidade que crescia, o que afeta as exportações dos países que a abastecem com esses itens, como o Brasil. Além disso, a desvalorização da moeda local pressiona para baixo o valor em dólar das mercadorias que importa, o que tende a acentuar a queda da cotação de muitas commodities, boa parte delas exportada pelo Brasil. Também os grandes países exportadores da Ásia que têm a China como principal destino de suas exportações, como a Coreia do Sul, registram resultados ruins no seu comércio externo. Em julho, por exemplo, as exportações da Coreia do Sul caíram 14,7%. No caso brasileiro, as exportações para outras regiões poderiam compensar a perda das vendas para a China. Embora a China seja, isoladamente, a maior compradora de produtos brasileiros, a União Europeia, em conjunto, importa mais do Brasil. Os Estados Unidos, por sua vez, são o segundo maior importador isolado de produtos brasileiros. Mas também às voltas com problemas, como o desemprego na zona do euro em torno de 11%, a Europa vem cortando importações. Na América Latina, alguns dos mais importantes compradores de produtos brasileiros igualmente estão em dificuldades, como a Argentina e a Venezuela. As expectativas das vendas para essas regiões, se não chegam a ser sombrias, estão longe de ser animadoras. Dos principais mercados para os produtos brasileiros, resta o americano. Há certa regularidade nas exportações brasileiras para os Estados Unidos. As vendas do País para a maior economia do mundo são, principalmente, de bens manufaturados, cujo comércio é menos suscetível às oscilações que marcam o mercado de commodities. Mas o governo do PT nunca tratou o mercado americano com a atenção que ele merece, razão pela qual as exportações praticamente estagnaram e a indústria, que enfrenta longa crise – acentuada por erros da política econômica petista –, perdeu competitividade.