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Piora o cenário mundial

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Por Redação
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O cenário da economia mundial é hoje mais sombrio do que há uma semana, quando a ministra francesa Christine Lagarde foi eleita para dirigir o Fundo Monetário Internacional (FMI). A situação na Europa, já complicada pela crise grega, ficou mais assustadora com o rebaixamento de Portugal pela agência Moody"s de classificação de risco. Do outro lado do mundo, a principal locomotiva da economia global, a China, pode ter de avançar com menor velocidade por causa das preocupações com a inflação. Até a ajuda à Grécia ficou mais problemática, depois da ameaça da Standard & Poor"s de considerar o país em "calote seletivo" se os bancos privados participarem de uma reestruturação de sua dívida pública. Ontem, em sua primeira entrevista como diretora-gerente do FMI, Lagarde tentou exibir um moderado otimismo. A crise financeira de 2008 foi superada e o mundo está em recuperação, afirmou, mas logo em seguida acrescentou uma série de ressalvas: o crescimento é desequilibrado, há risco de superaquecimento nos emergentes, ameaçados por um fluxo muito grande de capitais, e, é claro, a Europa continua enfrentando o desafio das dívidas soberanas. A gravidade do quadro força os diretores e técnicos do Fundo a retardar as férias de verão. Antes de sair eles terão de sacramentar a liberação da nova parcela da ajuda ao governo grego. A União Europeia já aprovou a liberação. Falta a decisão do Fundo para o Tesouro grego ter acesso a mais um reforço de 12 bilhões. Essa providência será tomada numa reunião marcada para a próxima sexta-feira. Os problemas europeus tornam-se mais complicados com a desastrosa intervenção das agências de classificação de risco. A Moody"s impôs um rebaixamento de quatro níveis, de uma só vez, aos títulos públicos de Portugal. É preciso limitar o poder das agências, disse o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäeuble, mostrando-se irritado e perplexo diante da reclassificação de Portugal. O governo português, lembrou o ministro, está adiantado no cumprimento de suas metas fiscais e nada poderia justificar o rebaixamento. A questão é séria porque os bancos enfrentam restrições legais para emprestar a países com baixa classificação. Na China, o banco central anunciou o terceiro aumento dos juros neste ano e o quinto desde o início do aperto monetário. A taxa de empréstimo de um ano subirá de 6,31% para 6,56%. A taxa de depósito passará de 3,25% para 3,50%. Houve reação imediata nos mercados de commodities. Se a economia chinesa crescer menos, a demanda de produtos básicos também aumentará mais lentamente. Na manhã de ontem as cotações do petróleo e dos metais caíram nos principais mercados. O caso chinês ainda apresenta uma complicação especial, desconhecida até há pouco tempo. Os governos locais - províncias e municípios - deviam no fim de 2010 o equivalente a US$ 1,65 trilhão. Isso correspondia a 29,6% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado para o ano. O Conselho Estatal determinou a adoção de políticas para a correção do problema. Também isso poderá resultar em restrição ao crescimento econômico, mas esse efeito dependerá de como os governos locais consigam refinanciar seus compromissos. As autoridades chinesas vêm tentando ajustar a economia do País há mais de um ano, com medidas de restrição ao crédito, mas o crescimento continuou acelerado, apesar disso. Neste ano o banco central intensificou o aperto monetário, diante da persistente ameaça da inflação. Um crescimento menor da economia chinesa pode ser positivo para todos a médio prazo, mas seus efeitos imediatos podem ser muito ruins. Um freio nos preços das commodities poderá prejudicar a receita comercial do Brasil e impor maior cuidado com as contas externas. Mas o momento é especialmente impróprio para uma desaceleração chinesa por causa da estagnação de boa parte da Europa e da perda de impulso da economia americana. No caso dos Estados Unidos, a situação é agravada pelo impasse em torno do teto da dívida pública. Se o Congresso rejeitar a elevação do teto, o governo será forçado a um arrocho econômico brutal. Nenhum país sairá ileso.