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Pioram as expectativas do Banco Central

Se os fatos confirmarem as novas expectativas, o próximo presidente iniciará seu mandato com negócios em ritmo lento

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Por Redação
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O Brasil chegará ao fim do ano em condições bem piores que as previstas há apenas três meses, com produção e consumo abaixo das projeções anteriores, de acordo com o novo cenário do Banco Central (BC). Em março ainda se previa uma expansão de 2,6% para o Produto Interno Bruto (PIB). A estimativa caiu para 1,6%, segundo o Relatório de Inflação recém-publicado. Lançado a cada trimestre, esse documento contém um panorama da economia nacional e das condições externas, além de apresentar estudos especiais produzidos pela equipe do BC. Se os fatos confirmarem as novas expectativas, o próximo presidente iniciará seu mandato com negócios em ritmo lento, desemprego ainda elevado e contas públicas em condições muito ruins, com enorme buraco nas contas primárias - sem o peso dos juros - e dívida pública em firme crescimento. A inflação ainda estará abaixo da meta de 4,5%. 

Com a diplomacia habitual, os autores do Relatório examinam sem comentários políticos a evolução das finanças públicas até abril e mencionam rapidamente a expansão dos débitos oficiais. A dívida bruta do governo geral - governo central, governos estaduais e municipais e INSS - atingiu no quarto mês o valor de R$ 5,05 trilhões, ou 75,9% do PIB, a maior proporção da série iniciada em dezembro de 2006. 

Só um comentário complementa a informação, sugerindo sua dimensão política: o avanço de reformas e de ajustes permanece “fundamental para reversão da trajetória ascendente da dívida pública”. 

O adjetivo “fundamental” está longe de ser um exagero. Mas pouquíssimos candidatos à Presidência, assim como pouquíssimos dos atuais congressistas, parecem ter percebido ou levado a sério esse ponto.

Para avaliar com algum realismo a evolução do cenário é preciso combinar as projeções da atividade e do emprego com as perspectivas das contas públicas. O programa de reformas, incluída a mais urgente, a da Previdência, está paralisado. A dívida bruta continua em “trajetória ascendente”, apontando, se nada for feito para deter seu crescimento, um problema de solvência dentro de alguns anos. 

Enquanto isso, as perspectivas de crescimento econômico permanecem abaixo de medíocres, depois de dois anos de recessão e de promissores sinais de retomada a partir do início do ano passado. Mas a recuperação perdeu impulso no primeiro trimestre deste ano. A atividade pareceu revigorar-se em abril, mas a crise no transporte rodoviário interrompeu a trajetória. 

Efeitos imediatos da paralisação do transporte de carga apareceram nos primeiros dados econômicos de maio e podem ser visíveis também nos de junho, mas ainda será necessário algum tempo para uma estimativa ampla de suas consequências diretas e indiretas. O relatório chama atenção para essa dificuldade. Mas uma primeira avaliação dos danos já é levada em conta, assim como a perda de ritmo durante o primeiro trimestre, na formulação da nova estimativa de aumento do PIB em 2018. 

Nessa nova projeção, o crescimento da indústria de transformação passa de 4% para 2,4%. O desempenho da construção civil é revisto de 1,5% positivo para 0,7% negativo. A expansão dos serviços, incluídos comércio e transporte, muda de 2,4% para 1,3%. Esta é uma alteração fácil de entender, porque no Brasil os serviços tendem a refletir a evolução da atividade industrial. Uma das poucas alterações positivas é a dos números da agropecuária. O recuo de 0,3% previsto em março foi substituído por um avanço de 1,9%. A expectativa de consumo das famílias cai de 3% para 2,1%, mas a de investimento produtivo permanece estável, com expansão de 4% em vez de 4,1%. 

Na área externa, o relatório traz um acréscimo de US$ 3 bilhões na previsão para as exportações e uma redução de US$ 2 bilhões no gasto com importações de bens. Com isso o superávit comercial chega a US$ 61 bilhões. Mas nem essa melhora vale uma comemoração tranquila. O gasto menor previsto para as importações decorre em parte do câmbio e em parte de um menor apetite por produtos estrangeiros, efeito de uma economia frouxa.