
11 de abril de 2013 | 02h11
É sabido o que o ministro Fux fez para se cacifar junto à presidente e assim realizar o que chamava seu "sonho". Em busca de apoio, o integrante do Superior Tribunal de Justiça (STJ) procurou desde a cúpula da Fiesp ao número um do MST, João Pedro Stédile. Procurou também Dirceu, o mais notório dos acusados do mensalão. "Alguém me levou ao Zé Dirceu porque ele era influente no governo Lula", recordaria Fux, para afirmar, espantosamente, que "naquele momento" não se lembrou de que o outro era um réu a quem iria julgar se chegasse ao STF. Na versão do petista, Fux o "assediou moralmente", por meio de terceiros cujos nomes não revela, durante "mais de seis meses" para ser recebido. No encontro, ainda segundo Dirceu, o candidato "tomou a iniciativa de dizer que ia me absolver. Textualmente". Se promessa houve, foi esquecida. "Li o processo e fiquei estarrecido", declarou o ministro para explicar a severidade de seus votos pela condenação dos mensaleiros. Só que um jornalista o ouviu dizer a um advogado: "Querem me sacanear. O pau vai cantar".
Não há nada de intrinsecamente errado com o sistema de escolha, copiado dos Estados Unidos, dos membros da Alta Corte de Justiça. O presidente da República indica, o Senado sabatina e ratifica - com a diferença de que o Senado americano é capaz de vetar o preferido da Casa Branca, como fez em 1987 com Robert Bork, favorecido pelo presidente Ronald Reagan. Tampouco é ilegítimo um aspirante ao STF cercar-se discretamente de aliados com acesso ao gabinete presidencial para influir na decisão de seu titular. Por fim, é melhor que o chefe do governo converse com aqueles entre os quais fará a sua escolha, ao modo de Dilma, do que deixar tudo por conta do ministro da Justiça, como fazia Lula. (Ele e o atual presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, só se conheceram na solenidade da posse.) O que é - mais do que errado - chocante é a despudorada voracidade com que se comportam certos "ministeriáveis", se não a maioria, em campanha. O caso de Luiz Fux, ainda que ele não tenha dito o que Dirceu lhe atribui, se inscreve nessa deplorável tradição.
Pior ainda é o episódio da hora. Na última sexta-feira, "fontes do Supremo" asseguraram à colunista Sonia Racy, do Estado, que Dilma escolheu o advogado tributarista e professor da USP, Heleno Torres, para a vaga ocupada até o fim do ano passado pelo então presidente da Corte, Carlos Ayres Britto. Ligado ao relator do mensalão, ministro Ricardo Lewandowski, Torres havia sido recebido na véspera pela presidente para uma conversa reservada. Seja lá o que dela tenha ouvido, não perdeu tempo em fazer chegar à imprensa - por interpostas pessoas que pediram para não ser identificadas - a suposta "notícia". Dilma, evidentemente, ficou furiosa com a quebra de confiança e mandou chamar para entrevistas todos os outros candidatos. A analogia é imperfeita, mas o caso poderia lembrar o episódio do político que procurou o governador de Minas Gerais à época, Tancredo Neves, para pedir "orientação". "Estão dizendo por aí que vou ser nomeado secretário. Que devo fazer?", perguntou, sofregamente. "Diga", respondeu Tancredo, "que eu o convidei e você não aceitou."
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