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Poupança pode provocar alta de juros

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Por Redação
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Tudo indica que, apesar da opinião da equipe econômica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pretende mexer na remuneração das cadernetas de poupança antes das eleições de 2010. Essa decisão traz uma série de inconvenientes e poderá levar os bancos a atitudes drásticas, pois atualmente as cadernetas de poupança estão oferecendo remuneração melhor que os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). O Comitê de Política Monetária (Copom) terá de pensar duas vezes antes de nova redução da taxa Selic, cujo efeito seria aumentar ainda mais a diferença de remuneração entre CDBs e cadernetas. Ora, alguns economistas consideram, com certa razão, que, se o mercado continua reduzindo suas previsões sobre a evolução do IPCA - cuja média anual já está abaixo de 4,5% -, seria normal que o Copom reduzisse mais uma vez a taxa Selic, com grande benefício para o Tesouro, que é o primeiro a se aproveitar disso por causa da queda do custo da dívida mobiliária, num momento em que esta deve aumentar. Os bancos comerciais não têm nenhum interesse em captar recursos por meio de cadernetas de poupança, para os quais não têm liberdade de aplicação. A primeira reação das instituições financeiras privadas foi instruir seus gerentes a dissuadirem os clientes de fazerem aplicações em cadernetas e, para isso, na sua grande maioria, diminuíram os custos de administração de outras aplicações. Até agora, isso permitiu que não se verificasse uma migração muito grande de aplicações em renda fixa para as cadernetas, e a evolução na Bolsa de Valores estimulou os investidores a realizar aplicações de risco que, todavia, são restritas a uma classe de renda mais alta. A se prolongar a situação atual - em que as cadernetas oferecem remuneração maior do que os títulos de renda fixa, em razão da sua isenção do Imposto de Renda -, poderá haver um aumento das migrações para as cadernetas, especialmente no caso da classe média mais sensível ao nível de remuneração. Se isso se verificar, restará aos bancos privados optar por um aumento da remuneração dos títulos que lhes permita manter a expansão dos seus empréstimos. Pode-se imaginar que os bancos - que não dão nada de graça - aumentarão, então, as taxas de juros dos empréstimos, para compensar o aumento dos juros pagos na captação. Teremos uma evolução curiosa, em que as autoridades monetárias poderão baixar o juro básico sem efeito sobre as taxas praticadas pelos bancos.