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Preservar o Hospital São Paulo

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Por Redação
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Se há uma coisa que não falta na rede pública de saúde é notícia ruim. A mais recente se refere à situação em que se encontra o Hospital São Paulo, administrado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos mais importantes para o atendimento da população de baixa renda da capital. As condições do hospital vêm se deteriorando nos últimos anos e agora, como diz seu superintendente, José Roberto Ferraro, "beiram o limite". Isso quer dizer que a situação é muito grave, porque a continuar assim corre o risco de a qualquer momento passar do ponto em que ainda é possível ser controlada. A crise pode ser reduzida a dois elementos principais, intimamente ligados, recursos financeiros insuficientes e falta de pessoal. O hospital está trabalhando com pelo menos 150 funcionários abaixo do que precisa para fazer os atendimentos que os seus equipamentos permitem e que a demanda por parte dos pacientes exige. As cenas descritas e os casos relatados por reportagem do Estado mostram que o que se passa nesse hospital se aproxima rapidamente do que de pior existe na rede pública, em termos de superlotação e demora. Num determinado dia, 12 pessoas estavam sendo atendidas em macas espalhadas pelos corredores. Um paciente relatou ter ficado ali quatro dias nessas condições. Outro disse ter esperado, mesmo no corredor, oito horas para ser atendido. Nem as crianças escapam. Na porta do pronto-socorro pediátrico, um cartaz informava que só estavam sendo atendidos casos de emergência. A unidade - superlotada e sem pessoal suficiente - não tinha condições de fazer mais do que isso. Para não piorar ainda mais a situação com a paralisação do trabalho, as enfermeiras do setor de pediatria encontraram uma forma pacífica e silenciosa de protestar - vestindo roupa preta para chamar a atenção de seus superiores e dos pacientes - e pedir a contratação de mais profissionais. Só neste ano houve cerca de 200 demissões no hospital, a maior parte delas no setor de enfermaria, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Unifesp, e a perspectiva de recomposição desse quadro técnico não é nada boa. A Unifesp admitiu, em nota, que não preencheu as vagas abertas pelas demissões feitas desde setembro do ano passado, a não ser aquelas de serviços considerados essenciais, por falta de recursos. Ferraro garante que a instituição tem a intenção de "retomar as admissões, mas (para isso) precisamos aumentar a receita". O que não está fácil, porque, acrescenta ele, há pelo menos um ano o hospital apresenta um déficit mensal de R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões. Embora ele cite também como causas para a crise o que chama de "desestruturação" da saúde do Município, com consequente reflexo na demanda por serviços do hospital, e pelo aumento dos casos de dengue, a principal delas é mesmo a falta de recursos. O problema da dengue, por exemplo, só se agravou nos últimos meses, enquanto o déficit se acumula há bem mais tempo. A instituição, tal como todas as outras que mantêm convênios com o Sistema Único de Saúde (SUS), sofre com a defasagem de sua tabela de procedimentos, que só cobre cerca de 60% dos custos. O Ministério da Saúde promete ajudar o Hospital São Paulo e informa que o primeiro repasse mensal adicional, com esse objetivo, será feito logo. Isso não foi feito antes, porque dependia da sanção da Lei Orçamentária, que só ocorreu dia 22. Acrescenta que os repasses cresceram 67% nos últimos dois anos. Tendo em vista que, mesmo assim, o déficit do hospital se manteve nesse período, está claro que aquele aumento está longe de ser suficiente. O Hospital São Paulo, uma instituição tradicional de alto nível, ligada à Escola Paulista de Medicina e voltada para o atendimento dos mais carentes, tem de ser preservado pelo importante papel que desempenha na capital. São realizados ali mil atendimentos diários e, mensalmente, mil consultas ambulatoriais e 2,3 mil internações. Desse esforço deve também participar o governo do Estado, aumentando sua ajuda à instituição.