27 de novembro de 2012 | 02h10
A produção de dossiês por "arapongas" para chantagear personalidades públicas e prejudicar adversários políticos tem sido uma das atividades mais prósperas do submundo dos partidos e dos órgãos e autarquias do Estado brasileiro nos últimos tempos. A impunidade desses chantagistas é notória. Vez por outra, surgem notícias sobre a fortuna pessoal e a ostensiva liberdade em que vivem os autores de um dossiê falso contra o candidato tucano ao governo do Estado de São Paulo em 2008, José Serra. Este se elegeu governador, governou três anos e perdeu duas eleições sem que o braço da Justiça alcançasse um só de seus detratores, chamados pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "aloprados". A filha do mesmo político, Verônica, foi vítima de grosseira falsificação por chantagistas do gênero, até agora impunes.
A cadeia de crimes nesses episódios é variada. Nem sempre a chantagem é feita contra inocentes, como nos casos acima citados. O mais das vezes, a bisbilhotice tem como alvo suspeitos de fraudes contra a máquina pública. A quebra de sigilos telefônicos, bancários e fiscais, obviamente sem a necessária autorização judicial, é o instrumento empregado para obter as informações vendidas, mas a atividade criminosa não para por aí. A PF apurou que parte da quadrilha fazia remessas de valores para o exterior por meio de atividade de câmbio sem autorização do Banco Central.
Depois de três anos de investigações, a PF partiu no começo desta semana para a desarticulação das duas organizações criminosas - uma especialista na venda de informações sigilosas e outra voltada para a prática de crimes contra o sistema financeiro. Na primeira investida, foram presos 33 investigados e cumpridos 87 mandados de busca e apreensão nos Estados de São Paulo, Goiás, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
Entre os investigados levados à sede da PF em São Paulo para depor na segunda-feira destaca-se a presença do presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo del Nero. Dirigente cujo poder na administração do milionário negócio do futebol aumentou muito desde que seu amigo José Maria Marin assumiu a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com a queda de Ricardo Teixeira em março, Del Nero foi protagonista nos bastidores da demissão do técnico da seleção brasileira, Mano Menezes. Chegou até a anunciá-la dias antes.
Dizendo-se "absolutamente tranquilo" sobre o assunto, o cartola, que é advogado criminalista, declarou: "É um assunto particular. Posso garantir que não tem relação com o futebol nem com meu escritório". Seja lá o que isso queira dizer, os agentes que foram buscá-lo em casa apreenderam por ordem do juiz um notebook e um Ipod. O vice-presidente da CBF foi liberado logo depois de depor.
As descobertas feitas pela Operação Durkheim dão à Justiça uma excelente ocasião para, punindo os culpados, pôr fim à impunidade de meliantes do tipo e desestimular estes prósperos negócios da chantagem.
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