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PT colhe o que plantou

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Por Redação
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Um recurso de retórica de que Lula lança mão desde os tempos de militância sindical é a demonização das “elites”, também referida como “eles” em suas diatribes contra os “inimigos do povo”. “Eles” são a encarnação do mal, eternamente conspirando para perpetuar seus privilégios e manter a servidão dos pobres. Há 35 anos Lula & Cia. batem nessa tecla. Como não é possível enganar a todos todo o tempo, esse discurso populista, tendo a ajuda da incompetência demonstrada por Dilma Rousseff em seu primeiro mandato, acaba se esgotando. E o PT, que sempre fez oposição e chegou ao poder disseminando o ódio, começa a colher o que plantou. Entre outras figuras destacadas do petismo, Guido Mantega, Alexandre Padilha e, no último fim de semana, Fernando Haddad, foram vaiados em lugares públicos onde se encontravam como cidadãos comuns. É lamentável. Manifestações de protesto e repúdio, como saudável exercício democrático, têm hora e lugares apropriados, que certamente não eram aqueles em que se encontravam os referidos cidadãos. A agressão verbal pode ser tão deplorável quanto a agressão física – que, felizmente, não chegou a ocorrer em nenhum desses casos –, pois ambas atentam contra a dignidade do agredido. Mas eis que um petista de alto escalão – o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Edinho Silva – assume ares de pacificador e vem a público condenar exatamente a prática que seu partido consagrou. Declarou o ministro em entrevista ao Globo: “Vejo amigos brigando, famílias se dividindo, não é só a intolerância contra políticos. Temo que esteja mudando a cultura brasileira, sempre apaziguadora. Há lideranças importantes se manifestando com ódio”. Sendo ele um líder petista com longa folha de serviços prestados a seu partido com a marca de um notável, digamos, aguerrimento, a atitude do chefe da Secom é, no mínimo, cínica. Poucos dias antes de se tornar ministro pacificador, Edinho Silva deu uma mostra da até então característica agressividade de seu discurso, ao tentar refutar as acusações de envolvimento do PT no escândalo da Petrobrás: “Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista”. É possível que o ex-deputado estadual paulista tenha pesadelos com o propinoduto do petrolão, porque em 2014 foi o tesoureiro da campanha reeleitoral de Dilma Rousseff. No momento, porém, a preocupação do chefe da Secom é com as ameaças que enxerga à “cultura de paz” dos brasileiros. E, para enfatizar essa percepção tardia, recorre ao surrealismo que povoa o imaginário popular: “Tem um monstro sendo alimentado dentro de uma lagoa toda vez que se dissemina o ódio. Esse monstro já colocou a cabeça para fora algumas vezes e, se sair por completo, vai ser incontrolável”. Só Deus sabe o que se passa pela cabeça do ministro quando fala em cabeças de monstros. O fato é que, usando o poder de que dispõe, Edinho Silva determinou à Caixa e ao Banco do Brasil que promovam campanhas destinadas a “estimular a tolerância” entre os brasileiros. Explicou o ministro que campanhas institucionais com esse conteúdo não podem ser veiculadas pela Secom, que só trabalha com assuntos de utilidade pública. Por isso, “orientou” os bancos oficiais a assumirem essa tarefa. O Banco do Brasil está com uma campanha aprovada que será veiculada brevemente e a Caixa colocou no ar a sua em meados de maio, na qual aparece um menino usando uma camiseta com as cores de todos os times de futebol que a instituição patrocina, com a mensagem “todo brasileiro já nasce sabendo conviver com as diferenças”. Assim, Edinho faz com a mão esquerda o que não pode fazer com a direita. Além dos objetivos altruístas de levar aos lares brasileiros o sentimento de paz e fraternidade que o PT sempre procurou destruir como meio de alcançar e se manter no poder, a iniciativa de Edinho Silva revela a falta de cerimônia com que os governos petistas contornam os obstáculos legais que encontram pelo caminho: se o governo não pode gastar dinheiro diretamente com propaganda que não seja de “utilidade pública”, as ricas empresas financeiras do Estado estão aí para quebrar o galho. E depois não querem que o povo fique com raiva.