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Que mérito?

O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), o notório Guilherme Boulos, foi agraciado pela Câmara dos Deputados com a Medalha do Mérito Legislativo de 2016

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Por Redação
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O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), o notório Guilherme Boulos, foi agraciado pela Câmara dos Deputados com a Medalha do Mérito Legislativo de 2016. Recebeu a honraria porque, na definição do deputado Felipe Bornier (PROS-RJ), é um dos “multiplicadores de cidadania”. Na entrega da láurea, que coube também a outras 35 pessoas e instituições, Bornier disse que “as ações de Vossas Senhorias são um exemplo inspirador para que mais pessoas se juntem ao grande esforço de atuar pela melhoria da vida dos brasileiros”.

A cerimônia ocorreu no dia 30 de novembro, um dia depois de uma série de protestos contra o governo em Brasília, dos quais a turma de Boulos obviamente participou e que acabaram degringolando em violência e depredação.

Não é possível entender que mérito os outorgantes da Medalha do Mérito Legislativo viram nele. Se tanto, poderíamos dizer que o líder do MTST teve o mérito de escancarar a tibieza do poder público diante da truculência de grupelhos como o que ele comanda.

Depois que Boulos reiteradas vezes hostilizou as instituições democráticas, vê-lo no plenário da Câmara dos Deputados – local em que vige a essência da democracia que ele tanto despreza, e ainda mais recebendo uma honraria destinada a premiar aqueles que, segundo a Câmara, realizaram “trabalho que teve repercussão e recebeu a admiração do povo brasileiro” – só pode ser considerado como um escárnio.

Não é de hoje, aliás, que Boulos transita pelos corredores das instituições as quais, se pudesse, destruiria. E aqui não está se referindo ao tempo em que lhe estendiam tapete vermelho no Palácio do Planalto, durante o mandarinato lulopetista. Boulos já foi recebido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e pelo ministro das Cidades, Bruno Araújo. E o cerimonial da Casa Civil ainda atendeu a um pedido do indigitado para que o encontro não fosse registrado pelos fotógrafos – afinal, o dirigente do MTST estava certamente preocupado em não parecer manso com um governo que pretende ajudar a derrubar na marra, por considerá-lo “golpista”.

Mas negócios são negócios, e Boulos foi defender os dele: o encontro serviu para que o agitador profissional se queixasse da suspensão da linha de financiamento do Minha Casa, Minha Vida que era administrada por entidades ligadas ao MTST. Essa modalidade do programa foi cortada porque evidentemente havia sido criada para bancar os tais “movimentos sociais” que serviram de esteio ao regime lulopetista. Segundo o Ministério Público Federal, os movimentos de sem-teto selecionavam os mutuários a partir de critérios políticos – só quem era da turma e ajudava a engrossar as ocupações ganhava a casa própria.

Boulos foi recebido por ministros em outubro, quatro meses depois de ter liderado uma invasão da sede da Secretaria da Presidência da República em São Paulo, para pressionar pela verba. Diante daquele ato de violência, o Ministério das Cidades anunciou que o financiamento seria retomado – e Boulos pôde demonstrar sua estima pelo diálogo democrático: “O governo golpista do senhor Michel Temer teve que recuar. Aqui não tem arrego. Arrego tem lá em Brasília”.

O empreendimento de Boulos, a exemplo de outros grupos semelhantes, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), não tem personalidade jurídica e, portanto, julga-se livre para fazer o que bem entende. É disso que tira sua força, e será tão mais bem-sucedido quanto maior for a fraqueza do Estado para enquadrá-lo como fora da lei que é. A finalidade social que o MTST ostenta em sua sigla é mera fachada para uma atuação política marginal, com claros objetivos liberticidas.

Mesmo assim, Boulos, em vez de responder por seus atos na Justiça, circula em Brasília como representante de um movimento cidadão. Para coroar tamanha desfaçatez, ele agora pode ostentar no peito uma medalha concedida pelo Congresso, prêmio que deveria ser reservado aos quem têm apreço pela democracia, e não àqueles que se dedicam a destruí-la.