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Queda da renda expõe a dimensão social da crise

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Por Redação
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A se manter a intensidade e a extensão da recessão econômica, a renda média por habitante cairá 8,7% em 11 trimestres, estimou a economista Silvia Matos, em seminário de análise conjuntural organizado há dias pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). A estimativa dá a dimensão do empobrecimento a que os brasileiros estarão sujeitos em consequência dos erros da política econômica do governo Dilma Rousseff.

Nos últimos 35 anos, o Brasil teve três recessões de longa duração (9 a 11 trimestres consecutivos). A atual (2014/2016) é menos intensa que a de 1981/1983, quando a renda per capita diminuiu 12,3%, e mais intensa que a de 1990/1992, quando o recuo da renda média foi de 7,7%. A estimativa é de que a recessão atual dure 11 trimestres e reduza em 8,1% o Produto Interno Bruto (PIB).

A renda per capita de 2014 foi de R$ 1.052,00, segundo o IBGE. Uma queda como a sugerida pela FGV equivaleria a um corte de R$ 90,00 mensais, a valores de 2014. Com a inflação deste ano, o montante da perda pode superar os R$ 100,00 mensais – ou um quarto do preço de uma cesta básica em São Paulo.

Os cálculos da FGV foram atualizados para uma estimativa de recessão de 3,6% neste ano e de 3% em 2016, porcentuais próximos aos previstos no mercado. O mais recente boletim semanal [ITALIC]Focus[/ITALIC] do Banco Central previu queda do PIB de 3,70% em 2015 e de 2,80% em 2016.

O cálculo da renda é médio e, assim, diferente para cada pessoa ou família. Trabalhadores que ficaram no emprego e tiveram correção salarial baseada na inflação só sentirão perdas conforme sua cesta individual de consumo. O mesmo se aplica a beneficiários do INSS e servidores públicos em geral.

Mas, com a inflação em alta, o consumo médio das famílias deverá cair 3,7% neste ano e 3,2% em 2016, segundo Silvia Matos. Para os empregados do setor privado, a situação é bem pior. O desemprego medido pela Pnad Contínua foi de 6,8% em 2014, deverá ser de 8,5% em 2015 e de 11,7% em 2016. Ou seja, poderá passar de 2 milhões o número de novos desempregados em 2016. A massa de rendimento real dos assalariados cai ininterruptamente desde 2013.

É provável que 2016 seja um ano ainda pior para as pessoas do que 2015, pois a recessão atingirá uma economia enfraquecida pela inflação e o desemprego. O custo dos erros recairá mais sobre a população que não pode se defender.