24 de outubro de 2013 | 02h09
Os defensores da censura alegam que as pesquisas na reta final das campanhas representam uma interferência indevida na intenção dos eleitores, influindo na sua decisão final. Na realidade, o que eles querem, em bom português, é cantar vitória antes da hora para atrair o voto dos incautos, sem o risco de serem desmentidos pelos números levados a conhecimento público. Especialistas do setor argumentam que são poucos os eleitores que se deixam guiar pelos resultados das sondagens. Mas, fossem eles muitos, qual seria o problema? Simplesmente não há nada de errado quando o eleitor leva em conta as pesquisas - como tantas outras coisas, a exemplo das opiniões de pessoas que preza - para firmar (ou redefinir) a sua escolha. Nem poderia ser de outra forma.
O voto é sigiloso, mas a jornada do eleitor até a cabine de votação não é uma travessia solitária: por não ser, a democracia só tem a ganhar quando o eleitor chega à urna bem acompanhado - com o mais amplo repertório de informações sobre os candidatos, as questões em jogo e as preferências de seus semelhantes. Estas podem ser essenciais para o exercício do chamado "voto consciente". Informado pelas pesquisas de que o seu candidato trava uma batalha perdida, o eleitor ainda assim poderá votar nele, ou em outro, este sim competitivo, seja porque lhe pareça a melhor alternativa, seja para tentar impedir a vitória de um terceiro, a seu juízo o mal maior. O voto útil, em suma, é tão legítimo e racional quanto se possa desejar.
De mais a mais, o veto à divulgação das pesquisas institui a desigualdade entre os eleitores. Como elas não deixarão de ser feitas, políticos, analistas, marqueteiros, operadores de campanhas, arrecadadores de fundos, jornalistas e todos quantos gravitam na órbita dos ciclos sucessórios continuariam sabendo - já agora como portadores de informação privilegiada - para onde pende o eleitorado. Tem mais. Como afirmou o ministro Ricardo Lewandowski, relator da ação julgada pelo STF em 2006, isso "apenas contribuiria para ensejar a circulação de boatos e dados apócrifos, dando azo a toda sorte de manipulações indevidas", atingindo o processo eleitoral "no que ele tem de fundamental, que é exatamente a livre circulação de informações".
Ah, mas as pesquisas também são manipuladas, ouve-se às vezes. É uma daquelas teorias conspiratórias que ignoram pelo menos dois fatos básicos: a concorrência entre os principais institutos, cujo negócio depende da qualidade técnica de seus levantamentos e da credibilidade dos resultados que repassam aos meios de comunicação, seus clientes; e a estrita legislação a que devem obedecer, incluindo o registro prévio das sondagens na Justiça Eleitoral, o acesso dos partidos ao seu conteúdo por 30 dias e a obrigatoriedade de divulgar o período de coleta das informações, número de entrevistas, margem de erro e identificação dos compradores do serviço.
Isso não quer dizer que pesquisas, campanhas e preferências eleitorais não se entrelacem. A sondagem eleitoral é um termômetro que afeta a temperatura do paciente. Cada leva de resultados torna-se um fato político, influindo nas campanhas e, eventualmente, nas inclinações do eleitorado. Mas elas estão longe de ser as proverbiais profecias que se cumprem por si mesmas. Se fossem, valeria para a competição eleitoral o equivalente ao dito de que, se macumba funcionasse, o campeonato baiano terminaria empatado.
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