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Razões da forte queda do PIB

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Por Redação
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A grande queda do PIB, embora não tenha surpreendido o presidente da República, como ele próprio declarou, surpreendeu o Banco Central - a ponto de o Comitê de Política Monetária ter antecipado sua consulta ao mercado para avaliar as previsões sobre a fixação da taxa Selic. Uma variação do PIB, de 1,7% de alta no 3º trimestre para uma queda de 3,6% no 4º, é sinal de impacto muito violento da crise internacional e justifica que se examinem as causas. Entre os fatores que contribuíram para isso se pode privilegiar a atitude do governo de defender a tese de que os fundamentos da economia permitiam ao Brasil encarar a crise como não mais do que uma "marola", e de que se poderia de qualquer forma contar com um crescimento de 4% em 2009. Ao abrigo dessa convicção, o governo não adotou logo as medidas anticíclicas que se faziam necessárias. Não se assustou com a queda das vendas no varejo (-1% em outubro e novembro; -0,3% em dezembro), que alertou a indústria. Esta, com uma capacidade de produção elevada depois de grandes investimentos, parou de produzir para enxugar estoques e, no caso da indústria automobilística, reduziu em grande proporção a sua força de trabalho, criando um clima de temor nos outros setores e contribuindo para a queda da demanda doméstica. Foi então que se verificou uma forte redução de crédito acompanhada de um aumento da taxa de juros, quando ela se reduzia na grande maioria dos países. O governo se iludiu com a ideia de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) iria compensar a paralisação dos investimentos privados. Menosprezou a importância destes e não admitiu sua inoperância na administração do PAC, que estava sofrendo grandes atrasos. Paralelamente, demorou para reduzir impostos diante da queda da arrecadação, que na verdade era um sinal de alerta e, ao mesmo tempo, aumentava seus gastos para investimentos e suas despesas de custeio. O governo foi surpreendido pela queda das receitas de exportações, em razão da redução da demanda externa e dos preços das commodities, enquanto a falta de recursos dos Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) tornava impossível o financiamento do comércio exterior. O governo continua errando mesmo depois de ter tomado algumas medidas contra a crise,ao pensar que o mau resultado do final do ano passado não afetará o PIB de 2009.