Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Reação industrial e emprego

A geração de vagas na indústria tem importância especial na reativação da economia

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

A geração de vagas na indústria tem importância especial no quadro de reativação da economia. O setor industrial continua sendo a principal fonte de empregos classificados internacionalmente como decentes – pela formalidade, pelo nível dos salários e pelos benefícios complementares. O aumento dessas contratações torna mais segura a recuperação do consumo e, portanto, a difusão de estímulos por meio da demanda final. Com saldo de 12.873 postos preenchidos em agosto (diferença entre admissões e demissões), a indústria de transformação absorveu mais de um terço dos 35.457 trabalhadores contratados, no mês, com carteira assinada.

Dos quatro grandes segmentos industriais, só o de transformação teve desempenho positivo, com geração líquida de 54.757 vagas. A indústria de mineração, a de serviços industriais de utilidade pública e a de construção continuaram mais dispensando que admitindo. O mau desempenho da construção, com 30.330 postos fechados de janeiro a agosto, é particularmente preocupante. Esse dado combina com as estimativas de investimento, indicativas de alguma reação apenas na aplicação de capital em máquinas e equipamentos.

Os negócios imobiliários continuam fracos, embora com sinais de estabilização, e as obras de infraestrutura permanecem estagnadas. A debilidade da construção, tanto na produção de imóveis como nas obras – para mencionar só alguns exemplos, de rodovias, ferrovias, portos e sistemas de saneamento –, prejudica a reativação e retarda ganhos de produtividade, essenciais para o crescimento de longo prazo.

A execução de projetos de infraestrutura depende da ação direta do governo. Envolve capacidade para planejar e projetar e competência para mobilizar e combinar recursos públicos e privados. Ao contrário do anterior, o atual governo tem exibido realismo nos critérios de concessões, mas poderia, talvez, mostrar mais dinamismo na condução da tarefa.

A confiança dos investidores e produtores tem sido sustentada principalmente pelos avanços na área fiscal e pelo sucesso da política monetária. O governo ganhou credibilidade ao insistir no esforço de reparação das contas públicas e no empenho em conseguir a aprovação de reformas. Além disso, interveio diretamente nas condições de mercado ao liberar, no primeiro semestre, o acesso às contas inativas do Fundo de Garantia (FGTS).

Essa liberação tanto serviu para desafogar famílias endividadas como para reforçar, de modo geral, o potencial de consumo. O poder de compra das famílias foi também fortalecido com o recuo da inflação. Num ambiente de preços muito menos instáveis que nos anos anteriores, a renda familiar foi mais preservada e sobrou mais dinheiro para as compras.

A melhora do quadro decorreu principalmente da política monetária, conduzida sem concessões até haver sinais bem claros de moderação da alta de preços. A redução dos juros básicos, a partir de outubro do ano passado, dependeu também da confiança dos dirigentes do Banco Central no prosseguimento do ajuste das finanças públicas. A boa oferta de alimentos foi também um fator importante, mas o declínio da inflação resultou principalmente do manejo de instrumentos políticos, como comprova a contenção generalizada dos preços.

O desemprego continua elevado, mas desde o começo do ano diminuiu de 13,7% para 12,6% da força de trabalho. O nível de ocupação deverá continuar melhorando em 2018, se o crescimento econômico ganhar impulso e se aproximar de 2%. A recuperação do emprego terá um efeito realimentador, fortalecendo a expansão do consumo e os estímulos à produção.

A recuperação da economia global, favorecendo o comércio, também deverá contribuir para a criação de oportunidades de trabalho. A exportação já tem sido um fator de expansão do emprego. É preciso, naturalmente, levar em conta o risco de entraves políticos, especialmente em tempo de campanha eleitoral. A recuperação é também um teste de seriedade e de responsabilidade.