08 de abril de 2015 | 02h05
Saqueada, superendividada e com necessidade urgente de uma boa dose de capital, a maior estatal brasileira é forçada a moderar seus planos de investimento e a enfrentar uma fase de penosa convalescença. Suas dificuldades financeiras já resultaram em problemas para companhias fornecedoras. Sujeita a processos em tribunais estrangeiros, desmoralizada e forçada a buscar financiamento chinês - fora, portanto, dos mercados tradicionais - para atender a necessidades urgentes de caixa, a Petrobrás estará impossibilitada, por algum tempo, de ser um dos motores do crescimento brasileiro. Por sua importância, no entanto, suas dificuldades se irradiam para uma porção de empresas ligadas às suas atividades. Algumas dessas empresas são fornecedoras normais de bens e serviços. Outras, em situação mais grave, são citadas nas investigações sobre o amplo e prolongado assalto à Petrobrás.
Que fazer com elas? Deixá-las enfrentar todas as consequências de seus malfeitos deveria ser a resposta normal, mesmo quando a quebra fosse inevitável. Poupá-las é poupar principalmente seus controladores. Em países desenvolvidos, grandes companhias envolvidas em lambanças de ampla repercussão têm sido liquidadas. Mesmo nesses países, no entanto, governos hesitaram, mais de uma vez, em permitir a quebra de instituições financeiras poderosas, por causa de sua importância sistêmica. Foi essa, pelo menos, a explicação mais comum. Um dos objetivos da reforma financeira internacional discutida nos últimos anos foi encontrar uma solução para esse problema. Isso eliminaria o status especial dos bancos considerados "grandes demais para quebrar".
No Brasil, esse conceito tem sido aplicado, ultimamente, a grandes construtoras e a companhias de peso. Sua quebra, argumenta-se, produziria enormes danos à economia. Daí a proposta de preservação de empresas suspeitas de participação no saque da Petrobrás - ou mesmo claramente envolvidas nesse festival de lambanças. Acordos de leniência seriam o caminho para oficializar o perdão e garantir a continuidade de operações dessas empresas sem maiores solavancos. Já houve quem propusesse, provavelmente sem corar, garantia de financiamento de bancos oficiais a essas companhias.
É preciso, segundo se argumenta, preservar essas empresas para evitar o risco de uma forte contração da atividade em setores importantes - como a construção civil e a fabricação de equipamentos pesados. Seria uma forma de prevenir a recessão ou, no mínimo, o agravamento da contração econômica já apontada por muitos como inevitável. Afastar essas companhias de grandes projetos elevaria o risco de crise e comprovaria os efeitos recessivos da corrupção.
A melhor forma de prevenir esse risco é romper o domínio das maiores empresas sobre os contratos de grandes obras e de grandes projetos. O governo deve agir para promover essa mudança. Não pode haver, no Brasil, companhia grande demais para quebrar ou para ficar fora dos maiores empreendimentos - especialmente se se tratar de uma empresa envolvida em corrupção e em pilhagem do patrimônio público.
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