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Reciclagem do lixo eletrônico

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Por Redação
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São Paulo terá, a partir de agosto, o primeiro Centro de Descarte e Reciclagem de Lixo Eletrônico criado por um órgão público. O projeto foi desenvolvido pelo Centro de Computação Eletrônica da USP (CCE-USP) em parceria com pesquisadores do Leadership Laboratory do Massachusetts Institute of Technology, e o objetivo é evitar a disposição inadequada do chamado e-lixo: computadores, celulares, baterias, televisores, rádios, micro-ondas, DVDs, CDs, lâmpadas fluorescentes, entre outros produtos. No início, o centro atenderá às demandas dos campi de São Paulo, Piracicaba, São Carlos e Ribeirão Preto. No fim do ano, receberá o lixo eletrônico das demais unidades da universidade e de todos os órgãos da administração estadual. Em 2010, estará aberto à população. No Brasil, há estimativas de que 50 milhões de computadores estão em uso e a perspectiva é de que serão 100 milhões em 2012 - e cerca de 120 milhões de usuários de celulares. A vida útil média desses equipamentos é de um ano e meio para os telefones e de quatro anos para os computadores. Além disso, há um consumo anual de 1,2 bilhão de pilhas e 400 milhões de baterias de telefones celulares. Do total de pilhas comuns, vendidas no País, estima-se que 40% sejam falsificadas, produzidas sem o menor cuidado e com teor de metais pesados superior ao permitido pela Resolução nº 257, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - único instrumento legal sobre o emprego de substâncias tóxicas em pilhas e baterias e que impõe aos fabricantes a manutenção da coleta desses produtos e a destinação para reciclagem. Também se estima que 37% dos computadores negociados no mercado têm origem em contrabando, com potencial poluidor ignorado, mas certamente maior do que o dos produtos aqui fabricados e controlados. O alto consumo, estimulado pela inovação constante, se traduz em grande volume de lixo eletrônico que, sem legislação específica sobre o descarte nem locais adequados para isso, acaba nos lixões e aterros, contaminando o meio ambiente. O e-lixo libera metais pesados que se infiltram no solo, comprometem os mananciais e entram na cadeia alimentar: chumbo, cádmio, arsênio e mercúrio, metais cancerígenos que causam danos ao sistema nervoso central, aos rins, fígado, pulmões e má formação em fetos. Algumas iniciativas isoladas para atacar o problema têm sido realizadas, como o Mutirão do Lixo Eletrônico, em diversos municípios paulistas no ano passado, organizado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Duas mil caixas de coleta foram instaladas nas cidades que aderiram à iniciativa e, em parceria com o governo federal, uma empresa de transporte e logística recolheu o material e o entregou a uma companhia especializada na reciclagem desse tipo de material. A Prefeitura, por sua vez, tem instalado caixas de coleta em pontos de grande concentração de pessoas, num trabalho conjunto com empresas de transporte, de coleta de lixo e comércio. Mas essas ações isoladas não trazem a conscientização necessária para frear os danos provocados ao meio ambiente e à saúde pública no País. É preciso o estabelecimento de normas federais rígidas, de fiscalização efetiva e de serviços de coleta mais amplos em parceria com setores interessados em reciclá-los de forma apropriada. O Centro de Descarte e Reciclagem de Lixo Eletrônico exigiu investimento de apenas R$ 180 milhões para uma operação que atenderá, já de início, a todo o parque tecnológico da USP, com seus 37 mil computadores, 15 mil impressoras e 4,5 mil equipamentos de rede. A cada ano, 15% de todo esse material se torna obsoleto e é descartado. Portanto, se as empresas que o produzem assumissem a responsabilidade do descarte e reciclagem, o custo seria muito menor do que se propaga - e que, aliás, justifica boa parte da inércia. O fato é que já há urgência na definição de normas e na implementação de fiscalização eficaz para livrar o meio ambiente e a saúde pública das ameaças contidas nessa sucata que cresce a cada dia e é abandonada por toda parte criando graves riscos de empestação da atmosfera.