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Reconstruir a base antártica

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Por Redação
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Se transformar em ação concreta "a firme disposição do País de reconstruir" a Estação Antártica Comandante Ferraz - anunciada pela presidente Dilma Rousseff em nota na qual lamentou o incêndio que destruiu 70% das instalações daquela unidade científica mantida pelo Brasil na Antártida e provocou a morte de dois militares -, o governo federal dará uma demonstração prática de que, efetivamente, reconhece a importância estratégica da presença de pesquisadores brasileiros na região e dos trabalhos científicos que ali vinham sendo desenvolvidos.O anúncio da presidente é importante no momento em que a comunidade científica faz o balanço das perdas imediatas e de médio prazo causadas pelo incêndio ocorrido na madrugada de sábado. Em operação desde 1984, a estação é considerada estratégica pelo governo brasileiro, pois assegura ao País o direito de discutir a aplicação do Tratado Antártico, que regula todas as operações na região.Cerca de 60 pessoas ocupavam regularmente a Estação Comandante Ferraz, sendo 15 militares da Marinha, 15 funcionários civis do Arsenal da Marinha (encarregados da manutenção e dos reparos) e 30 cientistas de diferentes instituições acadêmicas. Entre as pesquisas em desenvolvimento na estação estavam as ligadas à meteorologia, que permitiam a coleta de dados essenciais para a previsão de frentes frias que se dirigem ao Brasil. Cientistas brasileiros faziam também pesquisas ligadas a mudanças climáticas, às condições de sobrevivência do krill (pequenos crustáceos que são a base da alimentação de outras espécies marinhas) e aos efeitos da radiação ultravioleta nas regiões polares, mais sensíveis a ela.Por enquanto, além do compromisso de reconstrução anunciado pela presidente Dilma Rousseff, ainda pouco há de concreto a respeito da retomada dos trabalhos dos pesquisadores brasileiros na Antártida. O ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, disse que o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) será mantido com a utilização do navio polar Almirante Maximiano como base provisória até que a estação antártica seja reconstruída. Mas não há muitas garantias a respeito da utilização desse navio. "Não sei em quais condições se pode navegar no inverno, mas (o Almirante Maximiano) pode dar apoio a essas atividades de pesquisas, que não devem ser interrompidas até o restabelecimento completo da base", disse Raupp ao Estado.Há divergências no governo quanto ao prazo para a reconstrução da Estação Comandante Ferraz. Raupp acredita que isso poderá ser feito em um ano. Já o ministro da Defesa, Celso Amorim, prevê o dobro de tempo.Qualquer que seja o prazo, para cumpri-lo o governo terá de fazer bem mais do que tem feito até agora para assegurar a continuidade e a execução adequada do Proantar. Levantamento da ONG Contas Abertas constatou que o valor reservado no Orçamento-Geral da União para aplicações na Antártida em 2012, de R$ 11,8 milhões, é o menor dos últimos sete anos. Em 2011, os recursos para pesquisas na região totalizaram R$ 18,4 milhões (dos quais apenas 60,7% foram aplicados), praticamente o mesmo valor de 2010, mas bem menos do que os R$ 27,4 milhões aprovados para 2009.O naufrágio, em dezembro, de uma barcaça com 10 mil litros de óleo, nas proximidades da Estação Comandante Ferraz, e o fato de o navio de pesquisa Ary Rongel estar parado desde dezembro no porto chileno de Punta Arenas para reformas são problemas que se somam às dificuldades financeiras para a execução do programa antártico.O governo federal não pode repetir, no caso da estação antártica, a lentidão com que está reagindo a outro grave acidente na área de pesquisas, e que igualmente envolveu questões estratégicas. Destruída em 2003 por um incêndio que matou 21 especialistas, talvez só no fim de 2012 - mais de nove anos após o acidente - a plataforma de lançamento do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, possa testar um protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS), de acordo com previsão feita há um mês pelo novo comandante do centro, tenente-coronel César Demétrio Santos.