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Reputação abalada

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Por Redação
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Dilma Rousseff é desonesta, falsa e indecisa. Esta é a opinião, respectivamente, de 47%, 54% e 50% dos brasileiros consultados pelo Datafolha. Esta impopularidade a própria presidente da República construiu e foi significativamente ampliada a partir do momento em que veio se somar à comprovação de sua incompetência como chefe do governo a constatação, diante das medidas anunciadas logo após a posse, de que agiu de má-fé e mentiu deslavadamente durante a campanha eleitoral, fazendo agora exatamente aquilo que havia acusado seus opositores de estarem propondo: uma guinada na condução da economia e das finanças públicas e "correções" em benefícios trabalhistas. Agora, alarmada com o panorama sombrio da avaliação do seu governo - queda de 42% para 23% de ótimo/bom e aumento de 24% para 44% de ruim/péssimo -, Dilma tenta articular uma ofensiva de comunicação para recuperar as perdas, inclusive recorrendo aos truques do marqueteiro João Santana, responsável pelas peças de ficção que tiveram peso importante na vitória da campanha eleitoral petista. Certamente como consequência das dimensões bilionárias que o escândalo da Petrobrás atingiu, a corrupção (14%) é hoje, logo depois da saúde (26%), a maior preocupação dos brasileiros apurada na pesquisa Datafolha. Dilma planeja contra-atacar, logo após o carnaval, tirando de seu balaio de promessas o tão anunciado pacote de medidas contra a corrupção. Seriam cinco projetos de lei prometidos ainda durante a campanha eleitoral, dos quais dois deverão ser encaminhados ao Congresso Nacional em regime de urgência. Essa medida cumprirá ainda o objetivo tático de fazer contraponto à reação negativa que certamente terá na opinião pública a denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará nos próximos dias contra políticos investigados na Operação Lava Jato, muitos deles pertencentes ao PT e à base aliada. Um dos projetos que o Ministério da Justiça diz estar finalizando endurece as penas a serem cumpridas por funcionários públicos condenados por enriquecimento ilícito. Outro prevê o confisco de bens obtidos por meios ilegais. O escândalo da Petrobrás, do qual a presidente da República tenta manter distância, apesar de sua óbvia vinculação com a estatal desde quando ocupou o Ministério de Minas e Energia, tem pesado muito na avaliação de Dilma: 77% dos entrevistados na pesquisa estão convencidos de que ela sempre soube de tudo a respeito da farra da propina, e, dentre esses, 25% entendem que a chefe do governo simplesmente não podia fazer nada, enquanto 52% são de opinião de que ela simplesmente fez vista grossa à roubalheira. Mas é dentro do PT que Dilma encontra importante obstáculo à intenção de dar a volta por cima nessa profunda crise de popularidade. A tendência majoritária do partido, a Construindo um Novo Brasil (CNB), a que pertence o ex-presidente Lula, foi alijada da intimidade do Planalto e está em pé de guerra contra a presidente. Aliados a deputados da base governista, os petistas rebeldes resistem no Congresso ao pacote fiscal apresentado pela equipe econômica do governo, que reduz benefícios trabalhistas e previdenciários com o objetivo de obter uma economia de R$ 18 bilhões para atenuar o déficit fiscal. Foram apresentadas por deputados e senadores, até segunda-feira, 620 emendas às duas medidas provisórias em discussão. Dois terços dessas emendas, 412, são de autoria de parlamentares governistas, entre eles o ex-ministro de Esportes de Lula e Dilma, Orlando Silva (PC do B-SP). "Estourar a corda para o lado do mais fraco, na hora da dificuldade, não dá", diz ele. Isso é parte da herança que a presidente da República legou a si mesma, no primeiro mandato e na campanha eleitoral, graças à sua inépcia administrativa e à sua inaptidão para a política. Há quem aposte que Dilma Rousseff não poderá, nem saberá, sair do poço em que se afunda a cada dia que passa. Lula, por exemplo, já mergulha de cabeça no esforço para recuperar a imagem do PT que Dilma está pondo a perder. Sem isso, afinal, será muito difícil voltar ao Planalto em 2018, como já anunciou ser sua vontade.