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Resistência dos preços à recessão

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Por Redação
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O Banco Central (BC)está intrigado com a lentidão da queda da inflação no Brasil neste período de recessão, enquanto em outros países há forte deflação, em alguns deles até preocupante para as autoridades. Isso nos dá uma boa oportunidade para examinarmos a singularidade brasileira. O BC comparou a variação da produção industrial com a redução da inflação entre setembro de 2008 e janeiro. Houve uma queda da produção industrial de 14,5% e uma queda da inflação de apenas 0,5%. A diferença para outros países é realmente muito grande: nos EUA, queda de 7,8% e de 4,5%, respectivamente; no Japão, 20,6% e 2,1%; na União Europeia, 12% e 2,5%; na Rússia, 10,2% e 1,6%; e na Turquia, 17,6% e 1,6%. O Brasil parece contrariar a regra de que uma queda da produção industrial se traduz em forte queda dos preços. Mas uma série de fatores explica essa resistência dos preços à recessão. O BC tem uma certa responsabilidade nisso, por ter mantido a taxa Selic em nível extremamente elevado, enquanto os bancos se aproveitavam da situação para aumentar suas taxas de juros, já muito altas antes da crise. Não se pode esquecer também a responsabilidade do governo em manter uma carga tributária excessivamente elevada, que tira a possibilidade de uma flexibilização dos preços. Existe uma outra particularidade do Brasil: a forte dependência da importação de componentes, que entram na composição dos bens manufaturados. Com a desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar, esses componentes encareceram e os produtos finais, também. A influência desses dois fatores, que representam custos fixos para as empresas, fica bem evidente no caso dos automóveis de passeio: uma sensível redução dos impostos sobre esses bens foi suficiente para atrair compradores e reduzir o impacto da alta das importações. É bom notar que até agora os efeitos da desvalorização não foram totalmente transferidos aos preços e de uma certa maneira foram compensados pela manutenção de um nível geral de preços mais elevado do que se poderia esperar num período de recessão. Finalmente, convém lembrar que as comparações internacionais dos preços dependem muito da composição dos índices de inflação e do peso dos itens que variam muito de um país rico para um país como o Brasil, em que a distribuição de renda é bem diferente da dos países do Primeiro Mundo.