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Riscos na expansão do crédito público

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Por Redação
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Entre 2007 e 2008, as operações de crédito do Banco do Brasil (BB) aumentaram cerca de 40% e as da Caixa Econômica Federal (CEF), 42,5%, bem acima da média do sistema bancário, de 31,8%. A ampliação do peso dos bancos públicos no conjunto do crédito persiste em 2009 e faz parte de uma política deliberada do governo federal, não isenta de riscos. Desde o último trimestre de 2008, com o cenário financeiro conturbado, as instituições públicas federais compraram o controle do Banco Nossa Caixa, assumiram 50% do Banco Votorantim e adquiriram carteiras de crédito de bancos de pequeno porte. Beneficiaram-se com a atitude de depositantes assustados, que transferiram recursos para os bancos federais. Assim o BB aumentou sua participação no financiamento a veículos e no crédito imobiliário, enquanto a CEF era incumbida de operar um programa habitacional muito generoso. Há dias os bancos federais foram incumbidos de derrubar os juros cobrados dos clientes, o que vem ocorrendo em linhas de baixo risco, como o crédito consignado, mas também no financiamento de bens duráveis. Aparentemente, os bancos públicos apenas suprem a demanda de crédito não atendida pelo setor privado, assegurando as vendas do varejo e maior ritmo de atividade econômica, o que é positivo. Mas essa situação começa a mudar com o aumento do crédito privado. A história dos bancos públicos e o agravamento da inadimplência recomendam prudência. A falta dela levou o BB e a CEF a situações difíceis no passado, quando precisaram receber vultosos aportes do Tesouro Nacional, sob a forma de capital ou de emissões especiais de títulos. O professor Roy Martelanc, da Universidade de São Paulo (USP), lembrou ao Estado que, no passado, "os dois bancos (BB e CEF) saíram, por ordem do governo, oferecendo empréstimos sem muito critério e tiveram um surto de inadimplência". Em março, os dados da Serasa sobre a inadimplência das pessoas jurídicas mostraram uma elevação de 50,7% sobre o mesmo mês de 2008. No caso das pessoas físicas, o enfraquecimento do mercado de trabalho leva os consumidores a renegociar dívidas ou atrasar pagamentos, apesar dos ônus. Justifica-se alguma pressão no sistema bancário para reduzir juros, mas o governo quer ir além, substituindo crédito privado por crédito público. É uma política enviesada que, se for mal conduzida, imporá ônus ao Estado e à sociedade.