
23 de novembro de 2013 | 02h10
Não causam surpresa, portanto, os resultados da Sondagem da Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Eles mostram que o setor continua desaquecido. O estudo indica que, na avaliação dos empresários do setor, o nível de atividade da indústria de construção voltada para obras de infraestrutura em outubro foi menor do que o de setembro e o de outubro do ano passado. Também as empresas que se dedicam à construção de edifícios avaliam que o nível de atividade é igual ou menor do que o de outubro do ano passado.
É uma constatação frustrante. Como estamos a poucos meses da realização da Copa do Mundo, esperava-se a intensificação da atividade da construção civil nessa época, pois muitas obras de infraestrutura ainda não foram concluídas. Além disso, há menos de um ano e meio, a presidente Dilma Rousseff anunciou um ambicioso Programa de Investimento em Logística que prevê aplicações de mais de R$ 500 bilhões pelo setor público e por empresas privadas, mas quase nada foi feito de prático até agora. Algumas tentativas fracassaram, outras alcançaram êxito limitado e outras ainda tiveram de ser adiadas por razões técnicas ou por notória falta de interesse de parceiros privados nos empreendimentos que lhes seriam oferecidos.
O programa de logística prevê investimentos de R$ 91 bilhões em ferrovias, com a concessão de 10 mil quilômetros, e R$ 42 bilhões em rodovias, num total de 7,5 mil quilômetros. Haverá ainda investimentos em aeroportos e portos.
Inicialmente, previa-se que até setembro seriam leiloados os oito lotes de rodovias a serem recuperados, expandidos e operados pelo setor privado, os 10 mil quilômetros de ferrovias e 159 terminais portuários. Até agora, porém, só um lote rodoviário foi concedido, pois não houve interessado para o segundo oferecido em leilão.
Das obras rodoviárias incluídas nas duas versões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as principais apresentam atraso de até sete anos. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) passou por um processo de faxina, depois de denúncias de corrupção feitas no ano passado e que levaram à demissão do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, do diretor-geral da autarquia, Luiz Antônio Pagot, e de dezenas de funcionários, mas parece que ainda não conseguiu recuperar sua eficiência operacional. Até outubro, havia conseguido aplicar apenas 48% dos R$ 13,2 bilhões de que dispõe para investir em 2013.
Das despesas totais vinculadas à Copa do Mundo, de R$ 26,2 bilhões, apenas R$ 7,9 bilhões, ou 30,1%, foram liberados até o fim de outubro. De R$ 8,9 bilhões que foram autorizados para obras de mobilidade urbana incluídas na chamada matriz de responsabilidade da Copa, apenas R$ 2 bilhões foram efetivamente aplicados.
Até 2018, a Região Sudeste terá de investir R$ 590 bilhões em infraestrutura, para assegurar seu crescimento. É mais do que o total previsto para todo o País, e em prazo semelhante, no programa de logística anunciado pela presidente Dilma no ano passado.
Números como esses dão a dimensão das carências do País. Mas relatórios sobre a atividade da construção civil mostram como continua difícil o País ter suas necessidades atendidas no ritmo necessário por causa da persistência das conhecidas dificuldades do setor público - má gestão, má qualidade de projetos, restrições ideológicas à participação do setor privado, entre outras - para acelerar os investimentos.
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