27 de julho de 2011 | 00h00
Dito e feito. Até o início desta semana eram 18 os demitidos, entre eles o ministro herdado do governo anterior e os diretores dos dois principais órgãos vinculados à pasta, o Dnit e a Valec, responsáveis, respectivamente, pelas infraestruturas rodoviária e ferroviária. Dessas demissões, talvez mais significativa até do que a do próprio ministro Alfredo Nascimento foi a do diretor de operações do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que resistiu à saída por quase três semanas, apelando para o recurso de entrar em férias e fazer ameaças veladas ao governo - tudo isso com o apoio explícito de importantes dirigentes petistas, entre eles o fiel escudeiro de Lula, Gilberto Carvalho, devidamente plantado no Planalto como ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, e, de quebra, o vice-presidente da República e presidente de honra do PMDB, Michel Temer.
Apesar de algumas indecisões e recuos diante das crises políticas que tem enfrentado nos seus primeiros seis meses de governo - todas elas alimentadas por suspeitas e denúncias de corrupção -, a serena determinação demonstrada por Dilma Rousseff na conversa com os jornalistas que recebeu na sede do governo indica que, se depender apenas dela, o mau hábito de passar a mão na cabeça de corruptos e "aloprados", bem como tentar transferir para a oposição e a imprensa a responsabilidade por todos os malfeitos, faz parte do passado.
Dilma falou sobre tudo o que lhe foi perguntado, sem demonstrar impaciência ou irritação com as questões mais espinhosas. Mostrou-se muito à vontade e confiante quando tratou de assuntos econômicos, mas em nenhum momento revelou desconforto com problemas políticos. Procurou, é claro, minimizar a importância e a gravidade das denúncias de corrupção, das notícias sobre crises no governo e de suas divergências com o antecessor: "Eu entendo que dá manchete ter crise, mas de que ruptura vocês estão falando? Com quem?". E procurou se comportar como a magistrada que precisa ser, insistindo em que "não se pode demonizar a política nem a relação com os Ministérios", até porque "é preciso ter cuidado, porque tem gente que é inocente". E acrescentou: "Não podemos olhar só o governo, só o Congresso e a sociedade. É função intrínseca do governo impedir que haja conluio em qualquer lugar". E manifestou sua disposição de remover todo e qualquer entrave ao bom funcionamento da máquina do Estado: "Eles (os eleitores) me botaram aqui para isso".
Enquanto isso, em franca atividade política para manter-se em evidência na mídia que tanto ataca e também para manipular candidaturas para as eleições municipais do ano que vem - tanto num caso como no outro de olho nas eleições presidenciais de 2014, às quais se tem revelado candidatíssimo -, Lula não se cansa de repetir o que dele, pelo menos por enquanto, só se poderia esperar: protestos de sólida identificação e fidelidade em relação à sucessora que escolheu.
Na verdade, nem ele nem ela precisam explicitar o que pensam para evidenciar que se desenha no horizonte a confirmação do estigma do desgaste e consequente esfriamento da relação entre criadores e criaturas na política. Basta que continuem se comportando, ele, como sempre se comportou, e ela, como parece ter descoberto que é uma imposição de sua investidura. Por exemplo, no recado que Dilma mandou aos parlamentares: "É do jogo que o deputado peça e o governo aceite ou não". O limite entre uma coisa e outra é estabelecido, sobretudo, pela lei. Ou seja: fazer política, pode. Roubar, não pode mais.
Encontrou algum erro? Entre em contato