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Roubo na Ponte Estaiada

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Por Redação
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Em homenagem ao ano-novo chinês, comemorado desde segunda-feira, a Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo planejava programar os projetores da Ponte Octavio Frias de Oliveira, conhecida como Ponte Estaiada, para colori-la de vermelho com feixes luminosos. Acontece que, dias antes, 94 dos 142 holofotes especiais da ponte foram roubados e, para simular o efeito das luzes, os técnicos da Prefeitura improvisaram pinturas com tinta gelatinosa na Ponte. Assim, além do fiasco da abertura do Ano do Dragão, a cidade de São Paulo, ao completar 458 anos, não poderá contar com a maior parte dos holofotes, feitos sob encomenda na Holanda, para iluminar com diferentes cores, com diversidade de sequências, um de seus mais modernos cartões-postais. Este não é, de forma alguma, um fato isolado. No ano passado, a mesma ponte foi alvo de seis roubos de fios de cobre de linhas de transmissão de energia elétrica, um crime comum na metrópole, como em outros grandes centros brasileiros, combatido com pouca eficácia pelas autoridades. Não basta vigilância. É praticamente impossível vigiar quilômetros de linhas de transmissão de eletricidade e montar guarda permanente em todos os serviços de uso público. Basta uma consulta ao noticiário dos jornais para levantar inúmeros casos de furtos de fios de cobre. Para ficar apenas nos mais recentes, foram furtados quilômetros de fiação na Marginal do Tietê, na ciclovia da Radial Leste, no Parque do Ibirapuera, nos Túneis Ayrton Senna e Tribunal de Justiça, sem falar nos roubos de fios e cabos de linhas férreas suburbanas, uma ocorrência rotineira. Estima-se que 40 km de fios sejam roubados por mês em São Paulo.Isso não é fruto apenas de vandalismo. Há receptadores que compram cobre e alumínio extraídos de fios e cabos, e os revendem a pequenas indústrias, a empresas ditas de reciclagem, ferros-velhos e todos aqueles que adquirem esses metais sem questionar sua origem, tendo sido criado um ativo mercado paralelo que até agora funciona livremente. Como no furto de automóveis, o crime prospera não só pela ação de ladrões, mas pela existência de uma rede de desmanche de carros que lhes dá suporte. Seja por estarem envolvidas em outras questões de segurança pública, seja por deliberada omissão, as autoridades policiais têm deixado de apurar a fundo os furtos em linhas de transmissão de energia elétrica.Os prejuízos para o setor público são crescentes. Para repor os holofotes roubados, se a Polícia for incapaz de recuperá-los, a Prefeitura vai gastar R$ 1 milhão, além de R$ 200 mil em fiações. Os furtos de fios na Marginal do Tietê vão custar R$ 800 mil, e assim por diante. A Eletropaulo, que fornece eletricidade para a capital e 23 cidades da região metropolitana, também contabiliza elevadas perdas com roubos de fiações de eletricidade e até mesmo transformadores.A população é a maior prejudicada por iluminação deficiente em vias de intenso movimento, o que facilita acidentes de trânsito e gera mais insegurança para os cidadãos em extensos trechos mal policiados. As áreas de lazer também são seriamente afetadas, com a diminuição do movimento à noite em parques ou na malha de ciclovias, que é ainda muito pequena e apenas começa a estender-se.Os técnicos do Departamento de Iluminação da Prefeitura têm procurado dificultar a ação dos ladrões. Um exemplo é a colocação de fios ao longo do teto de túneis. Assim, para alcançá-los, os assaltantes precisam se utilizar de escadas muito altas, em meio a vias de grande movimento, o que torna muito arriscadas suas atividades criminosas. A engenhosidade pode ajudar a reduzir os assaltos, mas não exime as autoridades policiais da necessidade de uma mobilização, em articulação com o Ministério Público, e em caráter permanente, contra as quadrilhas organizadas, contra os receptadores, os sucateiros, inclusive empresas que compram o material furtado, e todos os envolvidos nesse tipo de crime.