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Roupa suja no G-20

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Por Redação
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A economia mundial poderá crescer 2% a mais nos próximos cinco anos e produzir US$ 2 trilhões acima das previsões atuais, se os governos das maiores potências desenvolvidas e emergentes adotarem políticas sadias e cooperarem, proclamaram em comunicado os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20). O documento resumiu as conclusões da reunião de sábado e domingo em Sydney, na Austrália. Dois trilhões a mais de produto global poderão resultar em vários milhões a mais de empregos - à primeira vista, uma tentação irresistível para governantes ajuizados. Mas a ação concertada continua sendo um enorme desafio, até porque as maiores potências conseguiram, aparentemente, vencer a pior fase da crise iniciada em 2007-2008. Quando o desastre financeiro levou o mundo à recessão, as autoridades do G-20 articularam-se para conter a quebra de bancos e limitar os danos. Nos anos seguintes o discurso da cooperação e dos planos conjuntos foi mantido, mas com efeitos práticos muito menores. A reunião em Sydney parece ter servido principalmente para conversas duras, queixas, trocas de críticas e umas poucas promessas de colaboração. A economista Janet Yellen, nova presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), prometeu clareza na comunicação sobre a política monetária, para evitar surpresas e dar aos demais países tempo de ajuste. Comprometeu-se, além disso, a ficar atenta aos efeitos internacionais dessa política. A redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos mexeu com os mercados financeiros, afetou os fluxos de capitais e provocou instabilidade cambial em muitos países. Essa consequência foi reconhecida nas discussões e mencionada no documento final, mas a política será mantida - apenas com os cuidados anunciados por Yellen. As autoridades monetárias devem ser cuidadosas na comunicação e levar em conta as consequências externas de suas decisões, mas continuarão limitadas por seus mandatos, observou o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Cabe aos emergentes, concluiu, cuidar de suas fragilidades. O secretário do Tesouro americano, Jack Lew, foi mais direto e talvez menos diplomático ao tratar do assunto. Ele rejeitou qualquer responsabilidade dos Estados Unidos por problemas dos emergentes afetados pela instabilidade financeira e cambial. Se faltarem capitais, poderão pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI), aconselhou. A linguagem pode ter sido realista, mas nem por isso a política americana ficou livre de críticas. Os Estados Unidos, lembrou o ministro de Finanças da China, Lou Jiwei, dependeram muito da política monetária nos últimos anos, sem adotar as reformas cobradas dos emergentes.Feito o balanço, todos os lados tiveram algum fundamento razoável para suas críticas, mas a simples troca de queixas e acusações é insuficiente para resolver qualquer problema. A promessa de Yellen de maior cuidado com a comunicação é um resultado positivo e poderá produzir algum efeito prático. Mas esse efeito será muito limitado para as economias menos preparadas para mudanças nos mercados financeiros. O presidente do banco central brasileiro, Alexandre Tombini, aproveitou a reunião para contestar a inclusão do Brasil entre os países mais vulneráveis. Não se deve, argumentou, confundir volatilidade com vulnerabilidade. As autoridades, acrescentou, vêm tomando medidas clássicas para enfrentar a turbulência externa e os problemas internos. Citou a alta de juros, a manutenção do câmbio flexível, a acumulação de reservas e a promessa de cortes orçamentários para descrevê-las. A descrição é pertinente, mas seria mais realista se incluísse a deterioração fiscal dos últimos anos, a inflação elevada e a piora das contas externas.Enfim, o compromisso mais vistoso - de coordenação para um crescimento mais forte - foi copiado, essencialmente, de um estudo preparado por técnicos do FMI para a reunião. Como em outras reuniões, esse documento antecipou a maior parte dos temas discutidos.