Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Rumo à tempestade perfeita

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Para evitar uma tempestade perfeita, a presidente Dilma Rousseff terá de apertar no próximo ano a gestão das contas públicas, disse o professor e ex-ministro Antonio Delfim Netto em entrevista ao Broadcast, serviço online da Agência Estado. Inventada para designar uma catástrofe natural causada pela rara conjunção de várias condições meteorológicas adversas, essa expressão tem sido usada, principalmente em inglês, para indicar desastres econômicos resultantes da confluência de uma porção de eventos negativos. Uma tempestade perfeita para o Brasil, em 2014, poderia nascer da combinação de um aperto na política monetária americana, uma deterioração das contas externas, uma depreciação cambial exagerada e uma forte desconfiança em relação à política fiscal. Essa desconfiança já está presente, reflete-se no prêmio de seguro cobrado nas transações com títulos públicos brasileiros e pode aumentar nos próximos meses, por causa das pressões, típicas de períodos eleitorais, por maiores gastos do governo. A presidente Dilma Rousseff, segundo o economista, tem noção do risco, é pragmática e tem como evitar a piora das contas públicas. Quanto ao pragmatismo, é justo acrescentar, tem sido demonstrado principalmente quando se trata da imagem popular e de interesses eleitorais, como tem sido demonstrado pelas políticas de controle de preços de combustíveis, de redução das contas de luz e de corte das tarifas de transporte público. Essas iniciativas frearam a alta dos índices de preços por algum tempo, mas nunca eliminaram os focos de pressões inflacionárias e, além disso, envolveram pesados custos fiscais. Sem esses e muitos outros detalhes negativos, seria muito mais fácil concordar com a imagem de uma governante pragmática na condução da política econômica e, de modo especial, na gestão orçamentária. As preocupações em relação às contas públicas e à economia brasileira são neste momento exageradas, segundo o professor Delfim Netto. Mas o governo, acrescenta o ex-ministro, tem de agir com firmeza e de modo claro para induzir o mercado a uma avaliação menos pessimista do quadro nacional. A ação deve incluir, segundo ele, um compromisso bem definido com um superávit primário - o dinheiro separado para o serviço da dívida pública - equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Neste ano, de acordo com o ex-ministro, esse superávit mal chegará a 1,5% do PIB. Esse resultado, segundo ele, será suficiente para controlar o endividamento, se o PIB crescer em torno de 2% em 2014 e o juro real pago pelo governo ficar em 4% ao ano. O cenário esboçado pelo ex-ministro parece realista, com um crescimento muito moderado, inflação próxima de 6% e taxa básica de juros na altura de 10% ou pouco acima. Mas até essas avaliações podem revelar-se otimistas, se os principais indicadores da economia continuarem evoluindo como nos últimos meses. Os números da inflação voltaram a crescer rapidamente nos últimos meses, depois de esgotados os truques. A piora das contas públicas acelerou-se e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já desistiu de compensar o fraco resultado de Estados, municípios e estatais. Esse critério deve ser mantido em 2014. Além disso, nada garante a repetição de receitas extraordinárias, como os R$ 15 bilhões do bônus no leilão do Campo de Libra. A presidente poderá ser forçada a um ajuste doloroso para reconquistar a confiança. Enfim, nada prenuncia um crescimento muito maior que o deste ano. O recém-divulgado Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou um terceiro trimestre mais fraco que o segundo. Sem confiança, os empresários continuarão investindo pouco. O investimento público só aumentará de forma significativa se as novas licitações na área de infraestrutura derem mais certo que as anteriores. Isso dependerá mais do governo que dos candidatos. Enquanto isso, as contas externas afundam. Começar a reação pelo compromisso fiscal, como sugeriu o ex-ministro, parece boa ideia. Difícil é apostar na regeneração de um governo populista em ano de eleição.