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Safra pode ser recorde

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Por Redação
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Clima favorável, investimentos em insumos e máquinas e otimismo do agricultor com as perspectivas do mercado externo são os fatores que explicam os seguidos aumentos das estimativas da safra de grãos que está sendo colhida no País. As mais recentes, que acabam de ser divulgadas pelo IBGE e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), embora com pequenas discrepâncias decorrentes do uso de metodologias diferentes, indicam que, com 143,5 milhões de toneladas, esta pode ser a segunda maior safra da história. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, acredita que as próximas projeções podem confirmar uma safra recorde. É um cenário bem melhor do que o observado no ano passado, marcado pela crise econômica mundial, pelas incertezas quanto à demanda internacional, pela queda de preços e, em algumas regiões ? sobretudo o Sul ?, por uma prolongada estiagem. O Paraná, por exemplo, o Estado mais afetado pela seca, deverá retomar sua posição de principal produtor de grãos do Brasil na safra 2009-2010, com a produção de 29,3 milhões de toneladas. O avanço da produtividade em virtude do maior uso de insumos e máquinas é surpreendente. O milho, por exemplo, embora registre redução de 4,1% na área cultivada em relação à safra anterior, terá um aumento de colheita de 2,6%. "Apesar da redução da área que ocorreu por causa dos preços desfavoráveis, o aumento do rendimento vai garantir a alta da safra do milho", disse o gerente de Agricultura do IBGE, Mauro Andreazzi. Com essa colheita, o Brasil reforçará uma tendência que se observa há anos. A agricultura brasileira vem tendo desempenho melhor do que a de outros países grandes exportadores agrícolas. Entre 2000 e 2008, como mostrou reportagem de Raquel Landim no Estado de domingo passado, as exportações agrícolas brasileiras cresceram à média anual de 18,6%, desempenho bem superior ao do Canadá (6,3%), da Austrália (6%), dos EUA (8,4%) e da União Europeia (11,4%). Há dez anos, o Brasil era o sexto maior exportador mundial de produtos agrícolas. Em 2008, o terceiro maior exportador mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia. De acordo com a OMC, o Brasil exportou US$ 61,4 bilhões em produtos agropecuários em 2008. O Canadá, o quarto colocado, exportou US$ 54 bilhões. Melhorar a posição no ranking mundial, porém, será muito difícil. Em 2008, as exportações dos Estados Unidos alcançaram US$ 140 bilhões e as da União Europeia, US$ 126 bilhões, mais do dobro do resultado alcançado pelo Brasil. A distância é muito grande. Mas o Brasil tem condições de aproximar-se dos líderes, pois os principais fatores que impulsionaram a produção brasileira nos últimos anos continuam presentes. Entre eles estão a disponibilidade de recursos naturais, como terra, água e sol; a demanda dos países asiáticos; e o aumento da produtividade. A produtividade, por exemplo, sustentada, principalmente, pelas pesquisas da Embrapa de variedades e de métodos adequados à realidade brasileira e pela modernização da gestão no campo, continua a crescer. Problemas existem, e não são desprezíveis. O principal desafio da agricultura brasileira é a precária infraestrutura. As estradas são ruins e não atendem importantes regiões. Por causa dessa deficiência, que o governo não consegue eliminar, o custo do frete representa quase metade do valor recebido pelo produtor de soja de Mato Grosso. "Sem infraestrutura, os custos de produção não são competitivos e a agricultura não consegue chegar a regiões que poderiam ser agrícolas, como o norte de Minas Gerais", observa o sócio-diretor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros. Também inibe a expansão da atividade agrícola a preocupação mundial com o meio ambiente, que tem gerado pressões no sentido da preservação das matas nativas. Há dez anos, estimava-se em 100 milhões de hectares a área nova disponível para agricultura; hoje, a estimativa está em 60 milhões de hectares. Mesmo assim, a agricultura encontra áreas para crescer, como o oeste da Bahia, o leste de Mato Grosso e o sul do Maranhão e do Piauí.