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São Paulo encolheu

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Por Redação
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A recessão bateu forte em São Paulo, principal motor econômico do Brasil, e o PIB paulista encolheu 4,1% no ano passado, segundo o governo estadual. O pior desempenho foi o da indústria, com recuo de 9%. O Estado contribui com cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do País e com aproximadamente 40% da produção industrial.

Os números divulgados ontem pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) são mais um componente parcial, e dos mais importantes, do triste balanço de 2015, por enquanto incompleto. A primeira estimativa geral das contas nacionais, com o PIB oficial, deve ser publicada no começo de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As avaliações divulgadas até agora indicam uma contração na faixa de 3,8% a 4%.

Só o balanço da agropecuária foi positivo, em São Paul0, com crescimento de 5,5%. No setor de serviços, no qual se inclui o comércio, houve um recuo de 2,1%. Esse dado é especialmente importante para a avaliação da crise, porque o desempenho do varejo e dos serviços havia sido, por vários anos, um dos principais suportes da economia.

A redução da renda familiar, pelo desemprego crescente, pela inflação e pelo crédito caro e escasso, acabou afetando também essas atividades. A partir de fevereiro do ano passado as taxas acumuladas de 12 meses do setor de serviços foram sempre negativas. Na indústria, a sequência de números negativos nos balanços de 12 meses começou em setembro de 2014 e nunca se interrompeu até dezembro de 2015, segundo os cálculos do PIB da Fundação Seade.

De modo geral, a indústria foi o setor com pior desempenho na economia brasileira desde o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Uma das consequências foi a forte redução do emprego industrial, apesar do esforço das empresas para reter funcionários. O esforço foi feito em parte porque as demissões são caras, mas principalmente porque é escassa a oferta de pessoal qualificado ou em condições de receber treinamento na empresa.

O desemprego na indústria continuou a crescer em janeiro, segundo o IBGE. Nas seis maiores áreas metropolitanas, cobertas pela pesquisa mensal de emprego, a porcentagem da população ativa ocupada na indústria diminuiu de 14,8% para 13,9% entre janeiro de 2015 e janeiro de 2016. Na Grande São Paulo a redução foi de 16,6% para 16,1%. Considerados os números absolutos, o recuo na principal área metropolitana paulista foi de 4,3%.

Em janeiro de 2011, no começo do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, a indústria ocupava 19,7% da força de trabalho na região metropolitana de São Paulo. Nas seis áreas, a proporção era de 16,4%. Também isso dá uma ideia do desastre ocorrido na atividade industrial nos últimos cinco anos, com um custo especialmente alto para a economia paulista.

A forte contração econômica do ano passado impôs danos importantes às finanças estaduais. A receita tributária do Estado de São Paulo, de R$ 146,03 bilhões, foi 3,9% maior que a do ano anterior, em termos nominais, e 4,6% menor, em termos reais, isto é, descontada a inflação. O efeito da recessão foi especialmente forte no caso do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), com aumento nominal de apenas 2,7% e contração real de 4,5%. Esse imposto representou 83,9% da receita tributária paulista. Na comparação de dezembro de 2015 com dezembro de 2014 a queda real chegou a 11% – mais uma demonstração da fraqueza dos negócios nas festas de fim de ano. Na expectativa do mau desempenho, comércio e indústria haviam, nos meses anteriores, contratado muito menos que em outros anos.

A perspectiva é de mais um ano de recessão, com resultados ainda ruins para a indústria e desemprego maior que o do ano passado. Continuará o aperto para o governo de São Paulo e, com certeza, para o da União. Haveria espaço para algum otimismo se a autoridade federal pelo menos indicasse uma correção de rumo.