
18 de dezembro de 2014 | 02h05
A sondagem de investimentos divulgada pela FGV na terça-feira passada mostra um ambiente marcado por muita insegurança. O baixo grau de confiança dos empresários ainda reflete, sem dúvida, a experiência ruim dos últimos anos, especialmente de 2014, mas evidencia também uma elevada incerteza em relação ao futuro próximo.
O balanço de investimentos de 2014 foi pior que o do ano anterior nos quatro segmentos cobertos pela pesquisa. Aumentos foram indicados por 38% das indústrias de transformação, 36% das empresas de serviços, 42% das firmas comerciais e 26% das construtoras. No ano anterior, os números haviam sido 40%, 41%, 49% e 33%.
No caso da indústria, a disposição para investir diminuiu de forma contínua ao longo de quatro anos. Em 2011, início do governo da presidente Dilma Rousseff, 54% das indústrias consultadas indicaram expansão do investimento. Nos anos seguintes essa proporção diminuiu para 43%, 40% e, finalmente, 38%. Nesse período, quase dobrou - de 20% para 38% - a parcela de empresas com redução do valor investido.
Esses números confirmam claramente o fracasso da estratégia de crescimento, especialmente da política industrial, seguida pelo governo. As linhas principais da estratégia haviam sido concebidas na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Procurou-se estimular o consumo por meio da elevação dos salários, da expansão do crédito e da transferência de recursos fiscais para grupos de baixa renda. Ao mesmo tempo, o governo ampliou o funcionalismo, expandiu seus gastos e afrouxou a administração das contas federais.
Para estimular o crescimento econômico e o desenvolvimento industrial, criou incentivos fiscais para setores selecionados e destinou grandes financiamentos a grupos escolhidos para serem campeões em seus setores. Tudo isso se completou com medidas protecionistas e políticas de conteúdo nacional.
Sem surpresa, a combinação desses lances produziu enorme desperdício, descompasso entre a demanda de consumo e a oferta de bens, piora da situação fiscal, inflação sempre longe da meta de 4,5%, erosão do saldo comercial e desequilíbrio crescente das contas externas. O investimento industrial ficou muito abaixo do necessário para expandir e modernizar a capacidade produtiva.
A insegurança permanece. No fim do ano passado, 47% das indústrias tinham planos de expansão do investimento em 2014. Na sondagem recém-divulgada e relativa a 2015, essa parcela diminuiu para 41%. Em serviços, a proporção de empresas com planos de maior investimento no ano seguinte passou de 48% para 45%. No comércio, de 63% para 52%. Na construção, de 45% para 34%.
Se a nova equipe econômica implantar em 2015 a prometida política de ajuste, incentivos fiscais deverão ser cortados. Além disso, pode-se esperar uma nova política no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com menor apoio do Tesouro. A promessa de ajustes indica um início de governo com baixo crescimento. As condições serão, aparentemente, desfavoráveis a uma retomada do investimento, exceto, talvez, por um detalhe. Se o governo conquistar credibilidade os empresários serão estimulados a apostar no País. Falta a presidente mostrar juízo, competência e coragem para esse jogo.
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