16 de abril de 2012 | 03h07
A cultura da exportação é recente, no Brasil, e isso explica, em parte, a pequena participação do País no comércio internacional. Entre 2001 e 2011 o valor exportado, em dólares correntes, foi multiplicado 4,4 vezes, mas isso foi insuficiente para a conquista de uma participação importante e proporcional ao tamanho da economia. As vendas de outros países também cresceram, mesmo em situações adversas, e só os muito dinâmicos avançaram de forma significativa na classificação. Mas é preciso dar atenção a dois outros pontos, muito mais importantes e muito mais preocupantes neste momento.
Em primeiro lugar, a indústria brasileira tem mostrado crescente dificuldade para disputar espaços no mercado internacional e até para manter posições no mercado interno. Não por acaso o Brasil avançou um posto na classificação dos importadores, chegando ao 21.º lugar. Sem a importação, o dinamismo do mercado interno, tão decantado pelas autoridades, acabaria resultando apenas em mais inflação.
Em segundo lugar, o Brasil só manteve a 22.ª posição entre os exportadores graças às excelentes condições dos mercados de matérias-primas e bens intermediários, sustentados principalmente pelo crescimento chinês. Sem essa demanda e sem os preços favoráveis, as vendas brasileiras teriam crescido muito menos em 2011.
O efeito da mudança no mercado, com a retração das cotações nos últimos meses, ficou evidentíssimo na modesta evolução da balança comercial no primeiro trimestre deste ano, quando o valor exportado foi apenas 5,8% maior que o de um ano antes. Em contrapartida, o valor importado foi 7,7% maior do que o observado entre janeiro e março de 2011.
É inútil atribuir o medíocre desempenho comercial brasileiro apenas ao câmbio. Nem os empresários acreditam nessa explicação, embora vivam protestando contra a valorização do real. Também é inútil atribuir essa valorização apenas ao tsunami monetário criado pela emissão de dólares, euros e libras, em vez de levar em conta os efeitos dos juros brasileiros, as distorções criadas pelo gasto público excessivo e também, é claro, os atrativos de uma economia ainda em crescimento, num cenário global de baixo dinamismo. Há também, é claro, uma porção de custos absurdamente altos.
O cenário de 2011 deveria ser um estímulo a mais para uma reflexão crítica - e principalmente autocrítica - das autoridades. Ma o cenário prospectivo de 2012 deveria levá-las a pensar em ações muito mais sérias que os pacotes e pacotinhos lançados de tempos em tempos pelo governo. Os economistas da OMC projetam para este ano um crescimento de apenas 3,7% para o comércio global, compatível com uma expansão econômica estimada em 2,1%. No ano passado, o comércio cresceu 5%, segundo a avaliação preliminar, e a produção mundial avançou 2,4%, de acordo com as contas apresentadas no estudo.
O cenário inclui alguma recuperação nos Estados Unidos e no Japão, insuficiente para compensar a estagnação europeia. Não basta combinar mais protecionismo com mais incentivos ao consumo e alguns estímulos a produções selecionadas. É preciso pensar em algo mais sério.
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