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Senado pede nova diplomacia

Lula da Silva impôs ao Itamaraty uma política externa dedicada a viabilizar sua delirante ambição de transformar-se em líder mundial

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Por Redação
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Ao longo de seus dois mandatos de presidente da República, de 2003 a 2010, Lula da Silva impôs ao Itamaraty uma política externa dedicada a viabilizar sua delirante ambição de transformar-se em líder mundial. Para tanto, aliou-se, no continente, ao então incipiente – e hoje em plena decadência – “bolivarianismo” inventado pelo caudilho venezuelano Hugo Chávez e, mundo afora, aos regimes autoritários que se opunham ao “imperialismo ianque”.

Vangloriando-se, lá fora, de ter eliminado “a fome e a miséria” no Brasil, Lula anunciava, aqui dentro, que estava expandindo nossas fronteiras para fortalecer o comércio exterior e beneficiar ainda mais nossa economia. Enquanto isso, ao pé do ouvido dos novos aliados internacionais que tentava conquistar, cabalava votos para eleger o Brasil membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Parte essencial da estratégia diplomática de Lula foi a forte expansão das representações diplomáticas do Brasil, de modo especial, no Caribe e na África. Das 66 representações diplomáticas criadas por Lula a partir de 2003 44 são embaixadas.

Os resultados da aventura lulopetista falam por si. Lula não acabou com a fome e a miséria no Brasil, mas os programas sociais que desenvolveu obtiveram resultados positivos de duvidosa serventia, porque não tiraram as pessoas da pobreza, mas fizeram-nas estacionar em diferentes níveis de carência. E mesmo parte significativa dessas conquistas foi tragada pelo desastre econômico em que o lulopetismo mergulhou o País.

No plano internacional, a ONU jamais considerou seriamente a possibilidade de abrir vaga em seu Conselho de Segurança, o que privava a reivindicação brasileira de sentido.

Do ponto de vista econômico, enquanto o mercado internacional mantinha o preço das matérias-primas em alta, o governo Lula surfou nos substanciais superávits comerciais e julgou que não precisava de parceiros desenvolvidos para consolidar o processo de inserção do País no sistema econômico mundial. Em consequência, recusou todas as ofertas de associação comercial com países economicamente interessantes, a começar da Alca, e vinculou-se precariamente às economias ditas “do Sul”, que nada ou quase nada podiam oferecer. Com isso, foram perdidas oportunidades que talvez não se repitam.

O desperdício de recursos com a implantação de embaixadas em países de importância econômica e geopolítica secundária, no entanto, pode ser prontamente estancado. A conveniência de manter representações em Burkina Faso, Dominica, Guiné, Libéria, Mali, Mauritânia e Serra Leoa deverá ser decidida a partir de um amplo estudo aprovado em dezembro pela Comissão de Relações Exteriores do Senado. Esse estudo, elaborado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e aprovado pela comissão então presidida pelo agora chanceler Aloysio Nunes (PSDB-SP), faz uma ampla e circunstanciada análise da ação do Itamaraty.

Trata também o estudo da necessidade de reforma das carreiras diplomáticas e da questão da falta de transparência no trato de assuntos relacionados com a política externa. Boa parte dele é dedicada à tentativa de comparar os resultados políticos e econômicos da política externa brasileira antes e depois de 2003 – quando Lula se tornou presidente com a ideia fixa de se tornar um líder mundial.

Afirma o documento que, com a criação de 66 representações diplomáticas a partir de 2003 “houve uma melhoria marginal nos resultados agregados do comércio. Mas a dispersão é muito grande e, de modo global, o investimento nas novas embaixadas possivelmente não cobre os retornos econômicos auferidos pelo Brasil. Os dados não sugerem causalidade entre a presença de embaixada e resultados econômicos”. Em outro ponto, revela o estudo que “o resultado médio agregado do nível de apoio político dos países que receberam novos postos diplomáticos após 2003 (...) não é necessariamente significativo”. Diplomaticamente, os senadores recomendam que o Itamaraty conserte o estrago.