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Sinais de recuperação nos Estados Unidos

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Por Redação
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No cenário sombrio da economia americana, que levou o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) a adotar medidas especiais para evitar o aprofundamento da recessão e conter as demissões, começam a surgir sinais de recuperação. Não é só o mercado de ações que registra bons resultados, os melhores desde fevereiro. Os mercados de crédito também dão sinais de vida, há indicações de que é sólida a situação dos grandes bancos e até o mercado de imóveis, onde a crise começou, registra a retomada dos negócios. Talvez seja cedo para afirmar que a atividade econômica chegou ao fundo do poço - condição para que ela volte a emergir -, mas são cada vez mais frequentes as previsões de que, no segundo semestre deste ano, a crise começará a ceder e alguns setores começarão a se recuperar. O quadro geral, entretanto, ainda é preocupante. Foi por temer que a interrupção do crédito e a fragilidade do mercado financeiro em geral agravassem a recessão nos Estados Unidos que o Comitê de Mercado Aberto do Fed (equivalente ao Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro) aprovou por unanimidade, em sua reunião de março, a injeção de mais US$ 1,15 trilhão na economia. A ação conjunta do Fed e do Tesouro dos EUA para conter a crise começa a fazer efeito e, aos poucos, vão sendo retomadas as operações financeiras que, desde a quebra do Lehmann Brothers, em setembro do ano passado, estavam praticamente paralisadas. Empresas bem avaliadas pelos analistas de crédito já começam a captar recursos no mercado de títulos, como mostrou Jack Healy, em artigo para o jornal The New York Times que o Estado publicou na quinta-feira. Até títulos de alto risco emitidos pelas empresas, os junk bonds, voltam a atrair o interesse de investidores. "O apetite pelo risco voltou, pelo menos por enquanto", disse a Healy um gerente do mercado financeiro, e esse apetite, reconhecem os analistas, está sendo estimulado pela ação do governo americano e do Fed. Foi o temor ao risco que afastou os investidores e paralisou o mercado. O crédito, vital para o mercado imobiliário, começa a fluir novamente, estimulado pelos programas do governo de compra ou de garantia dos financiamentos de imóveis. E caem os custos das operações. Na semana encerrada em 27 de março, os juros sobre uma hipoteca de 30 anos estavam em 4,61%, abaixo dos 6% cobrados no ano passado, antes da intervenção do governo e do Fed para reduzir o custo da operação. Na quinta-feira, o presidente Barack Obama, em reunião com proprietários que refinanciaram suas hipotecas, observou que a taxa está "tão baixa quanto em 1971". Reportagem da revista Business Week constatou a volta de compradores até em áreas que se degradavam porque as instituições financeiras não conseguiam manter os imóveis que retomaram dos antigos compradores inadimplentes. Os bancos estão vendendo essas casas pelo preço que for oferecido por elas. É melhor para os bancos vender por qualquer preço agora do que esperar indefinidamente pela recuperação do mercado. Para o comprador, este pode ser o melhor momento para o negócio. Se esses sinais, observados em várias regiões dos Estados Unidos, se mantiverem, o mercado começará a se normalizar. São sinais de confiança voltando, e quando a confiança estiver restabelecida, a crise estará superada. Há, ainda, outra boa notícia na área financeira. Nas últimas oito semanas, cerca de 200 inspetores do governo americano estiveram mergulhados nas contas dos 19 maiores bancos do país, para verificar sua capacidade de resistência no caso de aprofundamento da recessão. Temeu-se que a conclusão fosse negativa. O relatório oficial só será conhecido no fim do mês, mas, de acordo com o New York Times, a situação desses bancos é bem melhor do que se imaginava. Ainda há problemas em várias instituições. Apesar da grande injeção de dinheiro público no sistema, alguns bancos necessitarão de mais dinheiro do contribuinte, outros terão de se desfazer de ativos de má qualidade, contabilizando as perdas, e alguns conselhos de administração terão de ser substituídos. Nos próximos dias, com a publicação dos resultados no primeiro trimestre de algumas grandes instituições, se poderá conhecer melhor a situação do sistema bancário.