19 de maio de 2010 | 00h00
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou na semana passada a intenção de congelar mais R$ 10 bilhões dos gastos previstos no Orçamento. Com isso, serão contingenciados R$ 31,8 bilhões, porque a nova restrição deverá somar-se àquela já oficializada no fim de março.
Para alguns economistas, a decisão de conter o crescimento veio tarde demais e dificilmente produzirá efeito neste ano. O Banco Central havia tomado a dianteira ao iniciar uma nova fase de elevação de juros, mas também essa medida, dizem analistas, só afetará o ritmo dos negócios dentro de no mínimo seis meses.
Nesta altura, economistas consultados no levantamento semanal do BC projetam para 2010 uma expansão econômica de 6,3%. A estimativa foi revista para cima em nove semanas consecutivas. Alguns bancos preveem crescimento na faixa de 7% a 7,5%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nessa segunda-feira seus novos cálculos para 2010. O aumento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) passou de 5,5% para 6% e o crescimento da produção industrial, de 7% para 8%.
A elevação dos juros deverá impedir uma expansão maior e isso explica a projeção aparentemente conservadora, segundo o economista Marcelo Azevedo, da CNI. Também se levou em conta nos cálculos, de acordo com o técnico, o prometido corte de mais R$ 10 bilhões no Orçamento federal. Com todas essas novidades, a inflação esperada ainda foi revista de 4,7% para 5,4%, ficando pouco abaixo da média das projeções do mercado financeiro, de 5,54%.
A política de juros do BC está longe de ser uma unanimidade. Empresários e economistas da indústria e do comércio continuam criticando a elevação da taxa básica, iniciada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Apesar disso, dificilmente ainda se encontra uma projeção de inflação próxima do centro da meta oficial fixada para este ano, de 4,5%. Mesmo para o próximo ano a estimativa continua acima desse ponto. Na última pesquisa do BC, os técnicos do mercado financeiro e das consultorias apontaram um número mediano de 4,8%.
Não é um cenário desastroso, mas é obrigação do BC tentar conduzir a inflação ao centro da meta, exceto quando o custo de sua política for muito alto para um resultado muito pequeno. Esse tem sido o critério seguido há vários anos na condução da política monetária. A única novidade, em matéria de estabilização, é a decisão do governo de cortar gastos para evitar o superaquecimento da economia.
Quanto aos sinais de aquecimento, continuam multiplicando-se. Entre janeiro e março, foram comercializados na cidade de São Paulo 8.461 imóveis novos para residência, de acordo com o sindicato da habitação. Esse número foi 75,1% maior que o de igual período de 2009 e praticamente igual ao do primeiro trimestre de 2008. Mas a evolução dos preços mostra um forte desequilíbrio no mercado. O metro quadrado de um imóvel novo custava, em março, 26,7% mais que dois anos antes. No mesmo período, a inflação oficial acumulada ficou em 11%. O rápido aquecimento do mercado também afetou os preços de insumos e da mão de obra. Na primeira metade de 2008 ? muitos parecem haver esquecido ? a economia brasileira crescia em ritmo dificilmente sustentável. Esse quadro parece repetir-se agora.
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