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Sinais positivos no crédito

A relação entre o saldo do crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) parou de cair e ficou em 46,6% pelo terceiro mês consecutivo

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Por Redação
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Famílias e empresas continuaram tomando empréstimos em maio, apesar dos negócios prejudicados pela crise no transporte rodoviário. Poucas boas notícias foram proporcionadas, até agora, pelos balanços de atividades econômicas nesse mês. Alguns importantes dados positivos estão no relatório de crédito recém-divulgado pelo Banco Central (BC). Segundo o informe, o saldo das operações de crédito chegou a R$ 3,11 trilhões, com aumento mensal de 0,5% e expansão de 1,3% em 12 meses. Um detalhe especialmente animador está embutido nesses grandes números. A relação entre o saldo do crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) parou de cair e ficou em 46,6% pelo terceiro mês consecutivo. Desde o trimestre final do ano passado a proporção tem ficado próxima desse nível. 

A recuperação das operações de financiamento tem sido sustentada, nos últimos meses, pelas pessoas físicas e pelas jurídicas. Também esse é um dado especialmente positivo. Quando a economia começou a sair da recessão, as pessoas físicas lideraram por algum tempo o aumento da procura de crédito, enquanto as empresas tentavam iniciar a normalização de suas atividades. Em maio, os empréstimos a pessoas físicas corresponderam a pouco mais de metade – 54% – do valor concedido com recursos livres. 

O saldo dos financiamentos a pessoas físicas aumentou 1% no mês e 7,8% em 12 meses. As operações foram relacionadas principalmente com cartões, crédito pessoal e compras de veículos. 

Embora volumosa, R$ 8,26 bilhões, a concessão de novos financiamentos a pessoas físicas para compra de veículos foi em maio 2,4% menor que em abril. Mas cresceu 23,5% no ano e 23,7% em 12 meses. A expansão desse tipo de crédito tem sido, desde o ano passado, um dos principais motores do consumo. Nos 12 meses até abril o volume negociado no comércio varejista restrito foi 3,7% maior que no período imediatamente anterior. No varejo ampliado – com inclusão de veículos e seus componentes e material de construção –, o aumento foi de 13%. 

Em maio, a produção de veículos pelas montadoras foi 20,2% menor que a de abril, em unidades, e os licenciamentos, 7,1% menos numerosos. Esses números sintetizam efeitos da paralisação do transporte de carga. Os efeitos nas vendas do varejo, em maio, ainda serão divulgados em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O saldo do crédito a pessoas jurídicas com recursos livres cresceu 1,1% no mês e acumulou expansão de 4,4% em 12 meses. O relatório destaca os empréstimos destinados a operações de comércio exterior – antecipações de contratos de câmbio e financiamentos a exportações. Em maio, as exportações de industrializados (manufaturados e semimanufaturados) foram 15% menores que as de um ano antes, em valor, e isso se explica em boa parte pelas dificuldades causadas pela interrupção do transporte. Houve dificuldades no recebimento de matérias-primas, com prejuízos para a produção, e na saída de produtos prontos. De janeiro a maio, no entanto, o valor dessas exportações foi 7,2% superior ao de igual período de 2017. 

No caso dos financiamentos com recursos direcionados, o saldo diminuiu 0,2% no mês e 11,7% em 12 meses. A exceção foi o crédito rural, com aumento de 1,2%. O crédito com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) diminuiu 0,1% em maio e 12,9% em 12 meses, em termos de saldo. O estoque de financiamentos imobiliários encolheu 2,8% em maio e 21,1% em 12 meses. A atividade imobiliária – construções, vendas e aluguéis – foi uma das últimas a entrar em recuperação, e muito lentamente, depois da longa recessão. 

Os juros caíram mais um pouco, acompanhando muito de longe a redução da taxa básica pelo BC. O Indicador de Custo do Crédito, relativo ao custo de todas as operações, chegou a 21,2%, com diminuição de 0,3 ponto porcentual em maio e 1,1 ponto em 12 meses. Incertezas políticas e temores de recaída no populismo, no entanto, são muito mais nocivos à economia, hoje, do que os juros altos.