
12 de março de 2011 | 00h00
Essas obras e um piscinão na Bacia do Pirajuçara deverão ser entregues até dezembro. Valas, que funcionarão como córregos paralelos ao Tietê, sistemas de transferência de água entre o rio e a Bacia do Aricanduva - para evitar a inundação das ruas do bairro -, outros seis reservatórios e obras de proteção às várzeas do Tietê completam o pacote.
Especialistas em engenharia hidráulica e sanitária ouvidos pela reportagem do Estado afirmam, porém, que isso tudo pode não ter os resultados que se espera, pois um dos problemas não mencionados é a necessidade de mudanças de comportamento da população. Como lembrou o professor de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) José Rodolfo Scarati Martins, esta é uma das causas de inundações que nenhuma engenharia resolve.
Obras de engenharia, como os piscinões e o desassoreamento dos rios, têm vida útil limitada, por causa da quantidade cada vez maior de lixo atirado nas ruas, em áreas livres e nos leitos dos rios e córregos. Para piorar a situação, a legislação ambiental não acompanhou o desenvolvimento da cidade. Dessa forma, sem regras estabelecidas e sem clara consciência dos males acarretados por seus atos, as empreiteiras, nos bairros nobres, e os loteadores clandestinos, na periferia e áreas de mananciais, fazem serviços de terraplenagem sem preocupação com a erosão e com as toneladas de detritos que, a cada chuva, correm para os rios, contribuindo para o assoreamento.
Há muitos anos, os governos do Estado vêm considerando prioritário o controle das cheias. No ano passado, R$ 388 milhões foram reservados para o Programa de Infraestrutura Hídrica e Combate às Enchentes, dos quais R$ 259 milhões para a região metropolitana.
O programa incluiu desde o trabalho de desassoreamento de córregos até a instalação de um Sistema de Previsão e Alerta de Enchentes, inovação que lançava mão de alta tecnologia para a prevenção e o controle das inundações, pois permite o cruzamento de dados enviados pelo radar meteorológico com as informações emitidas pela rede de monitoramento das represas, dos cursos de água e dos reservatórios. Essa transmissão de dados é feita em intervalos de dez minutos para uma central de processamento, onde são analisados e, conforme o resultado, enviados às subprefeituras e demais órgãos responsáveis pelo atendimento às vítimas das enchentes.
Apesar disso, na atual temporada de chuvas, as populações de São Paulo e da vizinhança voltaram a sofrer.
Em janeiro, quando grandes áreas da cidade ficaram inundadas e o Rio Tietê invadiu as pistas da marginal, o governo do Estado anunciou investimentos que, somados aos já comprometidos, chegavam a mais de R$ 1 bilhão.
Um dos grandes desafios para a engenharia, segundo especialistas, é o de conter ou reduzir o excesso de escoamento superficial das águas numa cidade de topografia acidentada, e onde o solo foi quase que completamente impermeabilizado. Seria preciso, para isso, aumentar as áreas de várzeas e de infiltração de água de chuva no solo, além, evidentemente, de concluir as obras previstas no pacote lançado pelo governo do Estado.
Mas, paralelamente, a conscientização da população, a firme implementação da legislação ambiental e um melhor planejamento urbano têm que dar sua contribuição para aliviar o drama das enchentes.
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