01 de dezembro de 2013 | 02h14
A maior parte das pesquisas tem apontado um recrudescimento da alta dos preços ao consumidor a partir de agosto. Nem os truques do Executivo - redução das contas de eletricidade, cortes de impostos sobre itens selecionados, contenção dos preços dos combustíveis e congelamento das tarifas de transporte urbano - têm impedido o aumento cada vez mais veloz do custo de vida. A aceleração dos preços no varejo tem ocorrido mesmo com o barateamento de produtos no atacado.
Visível há alguns meses, essa tendência foi confirmada na quinta-feira com a divulgação do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de novembro. O indicador geral subiu 0,29%, bem menos que no mês anterior (0,86%). Esse efeito foi produzido, principalmente, pelo recuo de seu componente de maior peso, o conjunto dos preços por atacado (variação de 0,17%, depois de aumento de 1,09% em outubro). Mas o aumento dos preços ao consumidor passou de 0,43% para 0,65%, continuando a aceleração iniciada em agosto, e acumulou alta de 4,78% no ano e 5,55% em 12 meses.
Não se trata, portanto, de choque de preços do lado da oferta. Seis dos oito grupos de bens e serviços da cesta de consumo encareceram mais velozmente de um mês para outro, apesar da acomodação no atacado. São sinais claros, e já presentes há muito tempo, de inflação gerada por uma demanda muito mais aquecida que a oferta.
As causas desse descompasso também são conhecidas: emprego ainda elevado, ganhos salariais ainda consideráveis, por causa do aperto no mercado de trabalho, aumento do crédito e expansão do gasto público. Não há sinais, por enquanto, de arrefecimento da alta de preços ao consumidor nem de uma política fiscal mais austera, apesar da conversa sobre um pacto de responsabilidade fiscal proposto pela presidente e subscrito por líderes da base governista. Ao contrário: tudo indica a manutenção da gastança, tanto por iniciativa do Executivo quanto por interesses políticos dos partidos da aliança.
Em vez de cuidar de fato do ajuste de suas contas, para facilitar a estabilização de preços, a presidente buscou apoio do Congresso para afrouxar o compromisso do governo central com a meta de superávit primário. Além disso, o Executivo aproveitou a revisão da receita estimada para o ano para acomodar despesas no valor de R$ 16,3 bilhões. Parte da receita adicional nem sequer será recorrente nos próximos anos, mas nem a percepção desse fato estimula maior parcimônia no uso do dinheiro público.
Continua evidente o pouco empenho do Executivo em tomar medidas sérias contra a alta de preços. Suas ações continuarão marcadas pelo populismo, como até agora. Cada ajuste de preços de combustíveis - um exemplo especialmente claro - será obtido com dificuldade pela Petrobrás, apesar de suas necessidades de caixa. O Banco Central continuará isolado no combate à inflação. Sem efetiva seriedade fiscal, sobrará o aumento de juros como política de estabilização de preços.
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