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Sobra radar, falta semáforo

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Por Redação
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A falta de lâmpadas novas e o reaproveitamento de material usado de outros semáforos, para tentar assim manter um mínimo de ordem no trânsito da capital paulista - às vezes fica faltando uma das luzes (vermelha, amarela ou verde) -, não são um problema menor, como pode parecer à primeira vista. Além de considerar o risco de acidente que isto pode acarretar, é preciso também colocar esse caso no contexto mais amplo, tanto de escolhas equivocadas de prioridades na área de trânsito como da falta de manutenção adequada dos equipamentos urbanos.Reportagem do Estado constatou um desses casos no bairro do Ipiranga, no cruzamento das Ruas Comandante Taylor e Lino Coutinho, quando o empregado de uma empresa que presta serviço à CET retirou uma lâmpada do foco amarelo para colocá-la na do vermelho, que havia queimado. E durante cinco dias os repórteres percorreram 90 quilômetros de vias e constataram que em dezenas de cruzamentos existiam semáforos com pelo menos uma das lâmpadas queimadas há dias. Somente em bairros do centro expandido como Higienópolis, Perdizes, Pinheiros, Pompeia, Vila Madalena e Jardins foram encontrados 40 semáforos com defeito. Num raio de 2,5 km, entre as Ruas Cardoso de Almeida, Paraguaçu, Doutor Veiga Filho, Brasílio Machado, Doutor Cândido Espinheira e Alameda Barros, havia nove semáforos com uma das três luzes apagadas. Naqueles cinco dias, só 2 dos 40 equipamentos foram consertados.Segundo especialistas na questão, a falta de qualquer das três luzes de semáforos afeta seriamente a segurança do trânsito. Por exemplo: se não houver luz amarela, o motorista pode ficar sem tempo para frear, na mudança direta do verde para o vermelho, e provocar acidente. Como diz Sérgio Ejzenberg, "quando você está chegando a um semáforo, tem de receber uma informação luminosa e reagir a ela. Quando apaga (uma das luzes), você perde a reação". O problema deve-se à falta de contrato para fornecimento de lâmpadas novas. O que existia, assinado em abril de 2011, venceu em março deste ano. Mas a CET nega a falta de lâmpadas e afirma que o caso constatado pela reportagem no Ipiranga se deveu à falha da equipe encarregada do conserto dos semáforos, que adotou procedimento não autorizado. Afirma também que são trocadas em média 1,5 mil lâmpadas de semáforos por mês e que no ano passado a Prefeitura investiu R$ 47 milhões em melhorias dos "conjuntos semafóricos da cidade". Como os casos apontados pela reportagem são comprovados, deve-se concluir que o esforço citado pela CET fica muito aquém das necessidades.E isto não é novidade, como mostra o histórico da incapacidade da Prefeitura, neste e em governos passados, de cumprir promessas de recuperar e modernizar o sistema de semáforos. O Programa de Revitalização Semafórica, lançado com aquele objetivo em 2007, até agora deixa muito a desejar. Outro exemplo da morosidade e falta de empenho da administração na solução do problema é o caso dos semáforos inteligentes, que têm a capacidade de programar o tempo dos sinais vermelho e verde de acordo com o volume de tráfego nos cruzamentos. Eles começaram a ser instalados em 1994 e, além de seu número ter ficado abaixo das necessidades, nunca receberam a manutenção adequada. Por isso, muitos deles perderam as funções que os tornavam "inteligentes", passando a funcionar como equipamentos comuns. Se o sistema tivesse atingido as dimensões para as quais foi projetado e funcionasse perfeitamente, poderia reduzir os congestionamentos em até 25%, segundo os especialistas. Isto mostra a importância para São Paulo de um bom sistema de semáforos.Não é por falta de recursos que isso deixa de ser feito. É por uma escolha equivocada de prioridades na área de trânsito. Sobra dinheiro para comprar radares e aumentar a eficiência da fiscalização e o número de multas, mas não para melhorar os semáforos. Os motoristas continuam imprudentes e o trânsito, caótico.