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Opinião|Sobre sístoles, diástoles e otários

Atualização:

Começou com aquela senhora sob cuja responsabilidade a Petrobrás esteve nos últimos 12 anos - diretamente, enquanto presidente do Conselho que comprou a "Ruivinha" de Pasadena, ou indiretamente, enquanto ministra à qual ela estava afeita, e, logo, como a "presidenta" que nomeou pessoalmente os diretores da última etapa do "petrolão" que acaba de reconfirmar em seus cargos - apresentando-nos como "prova" da sua disposição de "dar combate sem tréguas à corrupção e à impunidade" os flagrantes da Polícia Federal dos delitos de que ela própria é coautora! Agora ela se nos oferece como o antídoto contra si mesma. É preciso aproveitar desse mau teatro ao menos o que tem de educativo. Com a morte das utopias o que restou é a verdade nua e crua. Não há quem não saiba que a continuação do saque organizado à Nação tem tido um só objetivo: comprar eleições para permanecer em posição de continuar a fazê-lo ad infinitum. A convocação para a Fazenda Nacional de um liberal ortodoxo da "escola de Chicago" que chefiava as missões do FMI no Brasil e é irmão ideológico do apedrejado Arminio Fraga - o próprio Lúcifer, segundo a demonologia petista de até 32 dias atrás - constitui-se numa enfática confissão de que toda a patacoada "ideológica" e "social" maniqueísta com que o PT vem tentando atear fogo ao País não passa de isca para atrair otários. Com a eleição no bolso, são os primeiros a admitir que não existe mais que uma maneira - e, talvez, mais meia - de gerir a economia, e que a que serve para o Bradesco e o FMI é a mesma que serve para o PT, para FHC e para o Brasil. A roubalheira na Petrobrás é isso. Os indivíduos que enriquecem em torno da atividade principal são apenas caronas. Empreiteiros e "operadores", que por mais ricos que fiquem vão dormir na prisão sempre que o pessoal que realmente manda nas coisas estala um dedo, não têm o poder que se requer para saquear as "brases". Os únicos com força para tanto são os políticos que entregam a cada "operador" o seu cofre previamente arrombado junto com o alvará para que saia à caça do empreiteiro que lhe proporcione servir-se do que eles contêm em escala industrial sem que ninguém na empresa assaltada lhes oponha a menor resistência. Os tais R$ 10 bilhões de que se fala são fichinha perto do que cada nova revelação indica que realmente se passou numa estatal que faz R$ 60 bilhões em compras por ano, 90% das quais sem licitação, ao longo de 12 anos. Mas, mesmo considerado esse número, essa é a menor conta que vamos pagar pela aquisição de mais quatro anos no comando da ordenha do Brasil por PT & Co. O subsídio aos combustíveis custou R$ 60 bilhões. Isso mais o resto jogou o valor da Petrobrás R$ 198 bilhões para baixo. A indústria do álcool foi tragada no arrasto e a de manufatura minguou até desaparecer naquele dólar falso pró-Miami. A "redução" na marra do preço da energia destruiu R$ 32 bilhões da Eletrobrás só no dia em que foi anunciada. A rasteira nos investidores que financiam a infraestrutura do mundo não dá para calcular. Fez da energia o maior buraco negro dos próximos anos. Por antecipação, o preço dela no mercado "spot" multiplicou-se por oito. Foi a pá de cal na indústria. Salvaram-se os "campeões nacionais" de financiamentos de eleições que embolsaram R$ 230 bilhões do BNDES. Tudo para que a "nova classe média", entulhada de quinquilharias "made in China", pudesse continuar acreditando, a bordo de seus automóveis "desonerados" em 22 bilhões por ano, que a festa nunca ia acabar. Por cima de tudo há o aumento de 740% no custeio da máquina pública, com seus 39 ministérios e a multidão dos "companheiros" que, de Lula até hoje, ocuparam o Estado. Eis aí - mais as "ONGs" chapa-branca, os "movimentos sociais" amestrados e o exército dos linchadores da internet sustentados com dinheiro público - a famigerada "militância", sempre cheia de tempo para "militar" e com a fúria de quem luta pelo que "é seu". Nada disso, é claro, foi feito para melhorar o País ou a vida dos pobres. É só o preço da eleição do PT, pelo PT, para o PT. Os R$ 24 bilhões do Bolsa Família são um troco perto dessa conta. Para coroar a obra, trocou-se a educação de toda uma geração pelo "aparelhamento" do sistema nacional de ensino por professores "organicamente" encarregados de rebaixar seu senso crítico, mantê-los referenciados a um passado morto e barrar-lhes o acesso à discussão da modernidade. Qual é o sentido de todo esse sacrifício imposto à Nação para, no fim, tudo acabar em Joaquim Levy? O que há é só o de sempre: esse negócio de andar de jatinho, ficar olhando o mundo lá de cima, dizer qualquer besteira e ser obrigatoriamente ouvido, não fazer fila nunca, não ter de pagar as próprias contas vicia tanto e tão rapidamente quanto ganhar sem trabalhar, aposentar-se sem contribuir, ter um emprego eterno qualquer que seja a crise. E tudo o que é preciso fazer para que não acabe nunca é não perder eleições. Todo o resto é pura tapeação. E lá vamos nós de novo. Sístole: os donos do poder bombam dinheiro para os músculos e os pulmões da Nação; os otários que vivem de trabalho, asfixiados, respiram e agradecem com votos a graça recebida. Diástole: com a eleição garantida eles relaxam e drenam de volta para si e para os seus o sangue da Nação, que, ainda assim, respira aliviada, pois o que se anunciava era muito pior. O dr. Levy chega prometendo "superávits"; dona Dilma açula no Congresso o homem que tem uma Transpetro para chamar de sua para livrá-la da obrigação legal de entregá-los. É o prelúdio. Como é contra a lei tocar quem tenha posto um pé dentro do Estado ou "adquirido" algum "direito" por doação de alguém lá de dentro, o desfecho será o de sempre: o "doloroso ajuste" pelo alargamento do duto de entrada, e não pelo estreitamento do de saída dos cofres públicos. Para cima, para baixo. A cada volta no círculo, maior fica o Estado e menor fica o País. Além de um limite de que já estamos perigosamente próximos, contrai-se a "síndrome argentina". A partir de então é só para baixo.*Fernão Lara Mesquita é jornalista e escreve em http://www.vespeiro.com 

Opinião por Fernão Lara Mesquita