05 de janeiro de 2016 | 03h00
Nem o governo espera um bom desempenho econômico nos próximos meses. O cenário tomado como referência para a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovada no fim de dezembro, inclui uma contração econômica de 1,9% e uma inflação de 6,47%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os parlamentares encarregados da redação final acertaram esses números com os técnicos do Executivo.
O avanço do IPCA considerado na LDO é quase igual ao estimado pelos economistas do mercado e a recessão é um pouco menos funda. Mas o cenário inclui também uma taxa básica de juros de 13,25% no fim de 2016. Na pesquisa Focus a taxa apontada chegou a 15,25%, um ponto porcentual acima daquela ainda em vigor. Essa expectativa reflete a disposição anunciada pelos dirigentes do BC de apertar a política monetária, provavelmente a partir deste mês, para tentar atingir a meta de inflação de 4,5% até o fim de 2017.
Seria insensato apostar a casa ou qualquer bem de família nessas ou em outras projeções econômicas, principalmente quando a incerteza política torna mais precário o funcionamento das bolas de cristal, cartas de tarô, búzios, modelos econométricos e outras ferramentas de adivinhação. Mas o esforço de previsão é indispensável a qualquer atividade. Nenhum goleiro, consumidor, produtor ou investidor se permite agir sem alguma concepção do futuro e por isso as projeções, mesmo inseguras, têm sempre alguma importância.
Além do mais, a precisão das estimativas, neste momento, é bem menos importante que os desafios e as tendências mais aparentes. Ninguém pode falar com alguma segurança, neste momento, sobre o desdobramento, a duração e o resultado final de um processo de impeachment. Mas o assunto está no topo das prioridades da presidente Dilma Rousseff e isso afetará as decisões políticas e econômicas por algum tempo.
O Executivo terá de enfrentar esse e outros obstáculos, incluída a pressão do ex-presidente Lula e do PT, para cuidar da gestão das finanças públicas. Investidores e consumidores provavelmente continuarão retraídos, o baixo ritmo de atividade ainda prejudicará a arrecadação de tributos e o governo, em qualquer caso, dependerá da recriação do imposto do cheque, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), para alimentar o Tesouro. A presidente continua mostrando pouca disposição para o corte e a racionalização da despesa.
Há razões muito sólidas para duvidar do resultado fiscal prometido, um superávit primário (sem os juros) equivalente a 0,5% do PIB. Além disso, conter o endividamento público será mais difícil, se os juros básicos subirem.
Numa hipótese otimista, 2016 será diferente de 2015 em um ponto importante: a recessão e a alta de preços ficarão mais perto das previsões do que ficaram no ano anterior. Ainda assim, o ano será muito ruim. Qualquer cenário mais luminoso dependerá da apresentação, pelo governo, de um programa sensato e crível de arrumação de suas contas e de aumento da produtividade nacional. Não há, por enquanto, nenhum sinal desse tipo.
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