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Super-Mario combate a crise

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Por Redação
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A chegada de Super-Mario foi a boa notícia do dia na conturbada zona do euro. O novo presidente do Banco Central Europeu (BCE), o italiano Mario Draghi, estreou no posto anunciando um inesperado corte de juros. Foi uma ação preventiva, segundo explicou, diante do risco de uma "leve recessão" no fim do ano. Seu estilo agressivo justificou o apelido, inspirado no herói de um jogo eletrônico da Nintendo. Enquanto o mercado reagia com demonstrações de otimismo à nova política do BCE, chefes de governo das 20 maiores economias do mundo começavam em Cannes uma reunião de dois dias para discutir a crise da Grécia, a situação dos grandes endividados da zona do euro e o quadro de estagnação das maiores potências capitalistas. A grande surpresa foi a mudança de estilo na condução do BCE, comandado nos oito anos anteriores pelo francês Jean-Claude Trichet. A direção do banco já havia dado sinais de um possível corte na taxa básica de juros, mas a mudança, segundo avaliação do mercado, só deveria ocorrer em dezembro. Mas a decisão foi tomada, sem aviso, na reunião de ontem, a primeira sob a presidência de Mario Draghi. A taxa foi reduzida de 1,5% para 1,25% ao ano e alguns especialistas já falam na possibilidade de um novo corte no próximo mês.A inflação na zona do euro está acima de 3%. O BCE normalmente procura mantê-la pouco abaixo de 2%, mas a tendência, segundo o novo presidente, é de redução nos próximos meses, por causa da retração econômica. Alguns analistas do setor financeiro também já apontam a possibilidade de uma política de "afrouxamento quantitativo", similar àquela seguida até junho pelo Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, e adotada há pouco tempo pelo Banco da Inglaterra. Para aplicar essa política, a autoridade monetária compra títulos públicos em circulação no mercado e para isso emite dinheiro, numa tentativa de estimular a concessão de crédito pelos bancos. Draghi, no entanto, foi cauteloso na entrevista concedida depois do anúncio do corte de juros. O programa de compra de bônus soberanos iniciado por seu antecessor é temporário e limitado, disse o novo presidente do BCE. Durante meses, o banco absorveu títulos emitidos por vários governos pressionados pelo mercado financeiro, incluído o italiano. Esse trabalho deve ser transferido ao fundo de resgate recém-reformado e ampliado por decisão dos 17 países da zona do euro. Draghi também evitou esse tema, mas sua oposição ao papel do BCE como emprestador de última instância a governos em apuros é conhecida. No dia anterior, o Fed havia anunciado a manutenção da taxa básica de juros dos Estados Unidos na faixa de zero a 0,25%. Além disso, havia apresentado uma reavaliação das condições econômicas do país. As estimativas de crescimento econômico foram reduzidas para a faixa de 1,6% a 1,7% neste ano, 2,7% no próximo e 3,3% em 2013. As projeções anteriores indicavam 2,8% em 2011, 2,7% em 2012 e 3,9% no ano seguinte. Ficou aberta, mas apenas insinuada, a possibilidade de uma terceira rodada de afrouxamento quantitativo. Na rodada anterior, o Fed lançou no mercado US$ 600 bilhões. Boa parte desse dinheiro vazou para o mercado de produtos básicos, favorecendo a elevação de preços, e para os mercados cambiais. Uma das consequências foi a valorização do real. Isso encareceu as exportações brasileiras e barateou as importações e causou danos importantes à indústria do País. O modo mais seguro de evitar um novo afrouxamento monetário nos Estados Unidos seria a aprovação do pacote de estímulos à criação de empregos apresentado pelo presidente Barack Obama, mas para isso seria preciso vencer a forte resistência republicana. Na zona do euro, o banco central poderá dividir os encargos de combate à crise com o fundo de estabilização, agora autorizado a operar com recursos de até 1 trilhão. Mas será preciso, ao mesmo tempo, enfrentar os enormes problemas criados pelas dívidas soberanas. Nos Estados Unidos, o Fed continua suportando um encargo desproporcional às suas possibilidades. Isso é ruim para todo o mundo.