07 de setembro de 2012 | 03h09
Mario Draghi havia prometido em julho, num discurso em Londres, fazer todo o esforço necessário para preservar o euro. "Acreditem, será o suficiente", acrescentou. A promessa foi recebida com demonstrações de entusiasmo nos mercados financeiros, mas durante mais de um mês, depois disso, nenhuma ação importante foi anunciada pelos dirigentes do BCE. Nesta semana surgiram rumores de novidades e o plano de intervenção foi finalmente anunciado.
Na quinta-feira, dirigentes do banco reuniram-se, como fazem periodicamente, para decidir o rumo da política monetária. Não houve novidade em relação ao juro básico, mantido em 0,75%. O grande evento, anunciado logo depois, foi o lançamento do plano de compra de títulos soberanos. Poucas horas depois, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, emitiu uma nota elogiando a decisão do BCE e garantindo o apoio necessário às políticas de estabilização e de crescimento na zona do euro.
O primeiro obstáculo político ao lançamento do plano foi vencido. Esperava-se oposição alemã. De fato, houve uma voz discordante na reunião do BCE. Foi a do presidente do Banco Central da Alemanha, Jens Weidmann. Conhecido opositor das compras de títulos soberanos pelo BCE, ele compara essas operações à mera emissão de moeda para financiar governos. O argumento é respeitável e, por isso, toda emissão realizada para a compra de bônus será esterilizada, segundo explicou Draghi numa entrevista depois da reunião.
O segundo obstáculo ainda será enfrentado. Os governos interessados na ajuda terão de recorrer aos fundos europeus de estabilidade financeira e de assumir compromissos de ajuste fiscal e de reformas. O problema, nesse caso, será a decisão política de aceitar essas condições em troca da ajuda - uma complicação adicional para governos como os da Espanha e da Itália.
A assistência do FMI será necessária no caso dos países já envolvidos em seus programas de ajuda. O Fundo deverá participar da definição das condições do financiamento.
O novo plano do BCE, disse Mario Draghi, é estritamente compatível com o mandato básico da instituição: a defesa do euro. Além disso, os dirigentes do banco, ao vincular a ajuda a programas de ajuste e de reformas, trataram de neutralizar, preventivamente, os temores de distorção da política monetária. É cedo para dizer se a iniciativa produzirá os efeitos desejados. Mas o novo lance é certamente ousado, apesar de todas as cautelas prometidas por Draghi. Na Europa, como nos Estados Unidos, a autoridade monetária continua liderando o esforço de estabilização econômica.
A piora das perspectivas da economia europeia torna especialmente oportuno o plano de socorro aos países endividados. Os economistas do BCE reduziram as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto da região e os novos números também foram apresentados na quinta-feira.
As novas projeções indicam uma retração entre 0,2% e 0,6% neste ano. Para 2013, o resultado previsto fica entre uma retração de 0,4% e um crescimento de 1,4%. Além disso, a recuperação, segundo as novas estimativas do pessoal técnico do banco, será muito lenta. Isso explica também a decisão, igualmente anunciada na quinta-feira, de relaxar os padrões das garantias cobradas pelo BCE para fornecer crédito aos bancos comerciais.
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