Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Tempo de turbulência

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Por Redação
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A turbulência voltou com força aos mercados financeiros, alimentada por boatos sobre rebaixamento da França, expectativas de perdas de grandes bancos e renovadas preocupações com a evolução da economia americana. O presidente Sarkozy interrompeu as férias e voltou a Paris para discutir novas medidas de ajuste orçamentário, num esforço para deter as especulações. As principais agências de classificação mantêm a nota AAA para a dívida francesa e ontem mesmo a Standard & Poor"s (S&P) elogiou as ações do governo para reduzir o déficit. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) comprou títulos da Itália e da Espanha pela terceira vez, em mais uma tentativa de acalmar os mercados. Mas todas as grandes bolsas da Europa fecharam o pregão em baixa - de 3,05% em Londres, 5,13% em Frankfurt, 5,45% em Paris, 5,49% em Madri e 6,65% em Milão. Enquanto isso, os índices de Nova York despencavam. Tudo parece dar razão a quem prevê pelo menos mais dois anos de sérias dificuldades, como os diretores do Fed americano e o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega.Um dia antes os grandes mercados, incluído o brasileiro, haviam encerrado os trabalhos com os índices em alta. Na manhã de quarta-feira o otimismo parecia persistir nas bolsas europeias, mas em poucas horas o panorama se alterou, com novos boatos sobre a reclassificação da França. Poderia ser a segunda grande economia - depois da americana - a perder o triplo A da dívida soberana. O ambiente de pessimismo foi reforçado com novas notícias sobre a troca de títulos gregos. Parte dos papéis seria substituída por bônus com vencimentos além de 2020 - prazo maior que o anteriormente previsto. Os bancos franceses são os mais expostos à dívida grega, com créditos equivalentes a US$ 56,7 bilhões, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), de Basileia. Em segundo lugar aparecem os alemães, com carteiras correspondentes a US$ 33,97 bilhões. Grandes instituições francesas calculam perdas de 21% nas trocas dos papéis gregos. Diante da perspectiva de perdas, investidores derrubaram os valores das ações de bancos de vários países, com os franceses puxando a queda geral. Várias semanas depois de aprovado o segundo pacote de ajuda à Grécia, o país continua contaminando a Europa. Os investidores ainda digerem os detalhes da substituição de títulos pelos bancos e avaliam o provável custo da operação. Os mercados europeus continuam de certa forma reciclando velhos problemas, como o da Grécia, e acrescentando alguma novidades ao rol das preocupações. Nas últimas semanas houve um surto de especulações contra duas grandes economias, a espanhola e a italiana. Os bancos da Itália continuaram sob forte pressão especulativa nos últimos dias. Mas a maior novidade foi a inclusão da França entre os países sujeitos a rebaixamento pelas agências de classificação de risco. Operadores do mercado citaram entre os fatores de preocupação a perspectiva de a dívida pública francesa se aproximar de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. Mas isso deve ser conversa fiada. A dívida poderá chegar a 97,3% do PIB no fim deste ano, segundo projeção divulgada em junho pelo BIS. A média da zona do euro foi estimada em 95,6%. Não houve sinal de pânico, naquela ocasião. Em Nova York, o analista de crédito Nicholas Swan, da S&P, elogiou em teleconferência o governo francês e comparou-o favoravelmente com o americano. De passagem, reafirmou a ameaça de novo rebaixamento da dívida americana, nos próximos dois anos, se a situação fiscal se deteriorar ou se o ambiente político piorar. Nessa altura, as cotações na Bolsa de Nova York já estavam em queda acelerada. A Bovespa resistia. Horas depois, o presidente Barack Obama se reuniria com o presidente do Fed, Ben Bernanke, e com o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, para discutir a crise. Durante o dia, só um país foi reclassificado: a Fitch rebaixou o Chipre de A- para BBB com perspectiva negativa. A economia global deve ter ficado um pouco mais segura.