31 de agosto de 2012 | 03h13
Não houve surpresa na prorrogação dos benefícios fiscais. A opinião pública só hoje vai conhecer os números globais do segundo trimestre, com a divulgação das novas estimativas do Produto Interno Bruto (PIB), mas os dados já disponíveis indicam um nível geral de produção ainda baixo. O pior desempenho tem sido o da indústria de transformação. No mês passado, segundo informou ontem a Fiesp, o nível de atividade da indústria paulista foi 0,3% superior ao de junho, com ajuste sazonal, mas 5,2% inferior ao de julho do ano passado. De janeiro a julho, foi 6,4% mais baixo que o de igual período de 2011.
A manutenção dos incentivos era esperada, também, por causa da conhecida inclinação do governo para atender aos reclamos da indústria automobilística, um dos segmentos mais beneficiados pelo corte do IPI e pelo protecionismo comercial. A maior parte do setor manufatureiro, no entanto, continua em marcha lenta.
O governo tem-se mostrado disposto, no entanto, a incluir algo novo no receituário. O anunciado plano de investimentos em transportes, com participação do setor privado, é promissor, mas falta cuidar do processo de concessões e de parcerias. O Executivo federal tem tropeçado com frequência nas licitações e na administração de projetos.
Outra novidade potencialmente importante é a promessa de redução de encargos sobre a conta de eletricidade. Se confirmada, a iniciativa será boa tanto para os consumidores residenciais como para as indústrias e, portanto, para o crescimento econômico. A energia elétrica é um insumo absurdamente caro no Brasil. O País dispõe de abundantes fontes de geração, mas a oferta cresce lentamente, porque o investimento é emperrado, e, além disso, a conta é onerada por impostos pesados e taxas injustificáveis.
As duas promessas - de mais ação na política de transportes e de barateamento da eletricidade - indicam a disposição do governo de cuidar de questões estruturais e importantes para o crescimento no longo prazo. Também o repertório das autoridades começa a mudar. Durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ontem, a presidente Dilma Rousseff indicou a preocupação com ações de alcance mais que conjuntural. Foi além disso e tocou no desafio da competitividade. Até há pouco tempo, esse tema era quase ignorado em Brasília, sendo lembrado quase exclusivamente quando se falava sobre a indesejável valorização do real e sobre os juros internos muito altos.
A atenção deslocou-se lentamente para fatores estruturais de competitividade, como os encargos sobre a folha de salários, as deficiências logísticas e o custo da eletricidade, uma lista ainda curta. Implantar estratégias de longo alcance, no entanto, é mais complicado, politicamente, do que oferecer benefícios fiscais restritos e ampliar a oferta de crédito, principalmente para o consumo. Mas essa política fácil é duplamente limitada - por seus efeitos, de curto alcance, e por suas consequências orçamentárias. A presidente parece estar descobrindo a urgência de ampliar o arsenal da política econômica. É esta, por enquanto, a novidade mais importante.
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