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Trégua para a baixa renda

Levar comida à mesa ficou mais fácil. A boa oferta derrubou o custo da alimentação

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Por Redação
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A inflação deu trégua às famílias de baixa renda, em geral as mais prejudicadas pela alta de preços. Levar a comida à mesa ficou mais fácil neste ano, porque a boa oferta de alimentos derrubou o custo da alimentação. O orçamento continuou apertado, como sempre, mas com alguma folga para outras despesas – para a compra de um novo aparelho eletrônico, por exemplo, ou para a troca de um móvel. O custo da cesta básica de alimentos diminuiu nos últimos 12 meses nas 21 capitais cobertas pela pesquisa mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), segundo relatório divulgado na quarta-feira passada. A maior queda, de 14,43%, foi registrada em Campo Grande. A menor, de 5,30%, em Porto Alegre. Em São Paulo, a baixa foi estimada em 6,03%.

O custo da alimentação foi o freio principal dos índices de preços ao consumidor, neste ano, de acordo com as principais instituições de pesquisas. Mas outros grupos de preços também evoluíram moderadamente, contribuindo para desafogar os consumidores. Quanto menor a inflação, mais duradouro é o poder de compra da renda familiar, proveniente do trabalho assalariado, da atividade por conta própria ou de outra forma de sustento.

O desafogo das famílias de baixa renda é mostrado, por exemplo, nos levantamentos da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em novembro, a versão mais ampla do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Br) aumentou 0,36%. Em 12 meses, a alta chegou a 3,35%, número bem satisfatório pelos padrões observados há muitos anos no Brasil. Esse indicador é baseado nos gastos de famílias com renda mensal entre 1 e 33 salários mínimos. As condições foram bem melhores para as famílias de renda entre 1 e 2,5 salários mínimos. Seu índice de preços aumentou 0,21% em novembro e 2,29% em 12 meses.

As medidas oficiais de inflação, produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também têm mostrado pressões menores sobre o custo de vida de todos os grupos, mas especialmente dos grupos de condições econômicas mais modestas.

Usado como referência para políticas de governo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,42% em outubro, 2,21% no ano e 2,54% em 12 meses. Foi uma evolução excepcionalmente boa. Se o resultado final de 2017 for inferior a 3%, a inflação ficará abaixo do piso de variação previsto para o IPCA, porque a meta é 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Esse indicador tem como base o orçamento de famílias com ganho mensal de 1 a 40 salários mínimos.

Para acompanhar a situação das famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos, o IBGE produz o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), muito usado como referência para reajustes salariais. Esse indicador aumentou 0,37% em outubro, 1,62% no ano e 1,83% em 12 meses. Como a pesquisa da FGV, a do IBGE deixa clara a desinflação beneficiando as famílias de rendimento menor.

Não muito usada no Brasil, a palavra desinflação descreve de modo apropriado a evolução dos preços desde meados de 2016. Durante quatro meses, entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, as taxas do IPCA acumuladas em 12 meses superaram 10%: 10,48% em novembro, 10,67% em dezembro, 10,71% em janeiro e 10,36% em fevereiro. O declínio tornou-se visível em março e prosseguiu até 6,36% em dezembro. Em outubro, diretores do Banco Central (BC) começaram a cortar os juros, apostando na trajetória declinante da inflação.

O custo da alimentação dificilmente evoluirá, em 2018, de forma tão favorável quanto em 2017. Mas a inflação poderá continuar tolerável, se o programa de ajustes e reformas for mantido e se as tensões políticas forem moderadas. Nesse caso, todos os consumidores ganharão e os de renda menor ainda serão consideravelmente beneficiados, mesmo com indicadores pouco menos favoráveis que os atuais. Se esse quadro se materializar, o consumo continuará em alta, favorecendo a produção industrial e o emprego. Isso dependerá em boa parte das decisões políticas tomadas agora.