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Um avanço do G-20

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Por Redação
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O risco de uma guerra cambial e comercial não foi afastado depois da reunião, no fim de semana, de ministros de Finanças do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e emergentes. Mas o encontro foi mais produtivo do que previam muitos especialistas e aplanou o terreno para a conferência de cúpula marcada para 11 e 12 de novembro em Seul. Os compromissos nunca foram firmados em linguagem tão clara, desde o primeiro encontro de chefes de governo, realizado há dois anos em Washington. Os ministros, desta vez, não prometeram apenas cooperação para promover o equilíbrio global. Foram diretamente ao ponto e comprometeram-se a evitar - ou a reduzir - a manipulação cambial. O governo chinês é o mais frequentemente acusado de manipular o câmbio para manter sua moeda depreciada - uma forma de facilitar as exportações. Nenhum país foi mencionado explicitamente no comunicado final, mas o papel atribuído a cada um é muito claro. A promessa de avançar para um sistema cambial mais próximo do mercado vale principalmente para a China. O yuan pouco reflete os fundamentos da economia chinesa, amplamente superavitária no setor externo. Essa relação é destacada no texto oficial. Do lado oposto, os americanos são acusados de emitir moeda em excesso, provocando a depreciação do dólar. Segundo o comunicado, as economias mais desenvolvidas, incluídas aquelas com moedas de reserva, "vigiarão a volatilidade excessiva e os movimentos desordenados das taxas de câmbio". Além disso, todos deverão evitar as desvalorizações competitivas - uma das políticas mais desastrosas na fase da Grande Depressão, nos anos 30 do século passado. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, deveria ter mandado ao Congresso, há dias, um relatório sobre manipulação cambial. A China seria obviamente acusada e isso daria aos congressistas, formalmente, um motivo para exigir a imposição de barreiras maiores a produtos chineses. O secretário preferiu atrasar a remessa do relatório para favorecer a negociação no encontro encerrado no último sábado. A política chinesa, disse Geithner, está avançando na direção correta - embora a valorização do yuan seja considerada muito pequena, até agora, pela maioria dos governos.A cautela diplomática do secretário americano diminuiu o risco de uma confrontação mais dura no encontro ministerial. Mas sua proposta mais audaciosa, a adoção de um limite numérico para o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos, foi rejeitada. Segundo a versão divulgada extraoficialmente, o alarme deveria soar quando o déficit ou superávit equivalesse a 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Vários governos, incluído o brasileiro, se opuseram à adoção desse ou de qualquer indicador semelhante, por motivos técnicos e políticos. Mas será preciso algum critério objetivo para determinar se a política executada num país é prejudicial aos demais. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já tem realizado análises desse tipo. Uma de suas novas tarefas será analisar os efeitos externos das políticas nacionais e apontar os governos causadores de problemas. Além disso, os ministros elogiaram as novas linhas de financiamento do Fundo, mais adequadas às condições atuais, e a criação de redes internacionais de segurança - um novo esquema para ação coletiva contra crises. O FMI saiu mais forte desse encontro, com mais autoridade para vigiar a economia global e promover ações preventivas. Também houve um importante avanço na reforma da instituição. Com a redistribuição de cotas e votos, as 10 maiores economias terão de fato maior peso. O Brasil passará do 14.º para o 10.º lugar. Além disso, os europeus ocidentais, hoje com 9 das 24 cadeiras da Diretoria Executiva, deverão ceder 2 a países em desenvolvimento. Estes poderão ter mais influência no dia a dia do Fundo e em várias de suas mais importantes decisões. "Essa é a maior reforma já realizada na governança da instituição", disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Com certeza, nenhum outro participante do encontro tinha motivos tão fortes para festejar.