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Um estrago de alta qualidade

Bloqueio criminoso de estradas derrubou a indústria

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Por Redação
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A maior crise financeira internacional desde os anos 1930 atingiu o Brasil no final de 2008, impondo à indústria paulista uma queda de 13,1% em dezembro daquele ano. O maior tombo depois desse ocorreu dois meses atrás, em maio, quando a produção industrial no Estado de São Paulo caiu 11,4% em relação ao nível de abril. Este foi um dos efeitos do bloqueio criminoso de estradas, recompensado pelo governo com a proposta de uma tabela oficial de fretes. Mas os danos à economia paulista foram só parte de um amplo desastre. Os estragos atingiram indústrias das cinco regiões. De abril para maio, a produção industrial diminuiu em 14 das 15 áreas cobertas pela pesquisa mensal do IBGE. Em relação a maio de 2017, a perda ocorreu em 12 dos locais pesquisados. Na comparação com abril, o retrocesso geral foi de 10,9%. O confronto interanual mostrou um recuo de 6,6%.

Além de São Paulo, outras quatro áreas tiveram perdas de produção superiores à média nacional, de abril para maio: Mato Grosso (24,1%), Paraná (18,4%), Santa Catarina (15%) e Bahia (15%). Só houve mudança positiva em uma área, Pará, com crescimento de 9,2%. A produção acumulada no ano ainda superou por 2%, na conta geral, a de janeiro a maio do ano passado. Em 12 meses, o resultado foi 3% maior que o do período imediatamente anterior, apesar da perda de impulso verificada no primeiro trimestre de 2018.

O balanço de abril, com volume produzido 0,8% maior que o de março, indicou um revigoramento da indústria, tendência confirmada por outros indicadores favoráveis. Mas essa tendência foi interrompida em maio pela crise no transporte.

A comparação dos primeiros cinco meses deste ano com os de 2017 mostra avanços em 8 das 15 áreas pesquisadas e recuo nas demais. O maior ganho ocorreu no Amazonas, com produção 17,9% superior à de janeiro a maio do ano passado. O segundo lugar é do Pará, com aumento de 6%. O maior parque industrial do País, São Paulo, ocupa o terceiro posto, com volume produzido 5% maior.

Alguns segmentos vinham liderando a recuperação industrial, como o de veículos, mas desde o segundo semestre do ano passado o movimento de reativação se havia espalhado. Com ritmos diferentes, todos ou quase todos os segmentos vinham ampliando a produção. Mesmo no primeiro trimestre, quando a retomada perdeu vigor, o desempenho da indústria permaneceu superior ao do ano passado e o setor continuou acumulando resultados positivos em períodos de 12 meses. Simetricamente, a paralisação do transporte rodoviário de cargas ocasionou perdas por quase todos os segmentos industriais. A interrupção da entrega de matérias-primas e insumos intermediários causou perdas generalizadas. Os prejuízos decorrentes de problemas no escoamento foram amplos. Em São Paulo, o impacto na indústria de veículos foi particularmente importante, pelo peso desse ramo na formação do produto industrial e também por seu poder de tração sobre outros segmentos. Em maio, a indústria paulista ficou 26,4% abaixo do pico de produção atingido em março de 2011. Em abril, estava 17,3% abaixo daquele nível.

Além de prejudicar a produção, o consumo e a criação de empregos, o bloqueio de rodovias interrompeu o investimento produtivo. De abril para maio, caiu 11,3% o Indicador de Formação Bruta de Capital Fixo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O consumo aparente de máquinas e equipamentos (produção nacional + importação - exportação) foi em maio 14,6% menor que em abril. O indicador da construção civil caiu 11,5%. Também o potencial de crescimento do País foi prejudicado. É estrago para terrorista nenhum pôr defeito.

Correção: No editorial Conflitos de competência (10/7/2018) entende-se que a decisão do juiz Sérgio Moro de indeferir o compartilhamento de provas com órgãos de controle administrativo, como o TCU, teve relação com o acordo de colaboração premiada firmado entre executivos da J&F e o Ministério Público Federal. Não há qualquer ligação entre o despacho do magistrado e o referido acordo.