27 de novembro de 2012 | 02h10
Erguido em 1890 às margens do Córrego do Ipiranga, nas quais o príncipe português dom Pedro de Alcântara proclamou a independência do Brasil da corte de seu pai, o rei dom João VI, o prédio, de estilo renascentista, foi projetado pelo arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi. Os especialistas atribuem à perícia do autor do projeto a possibilidade de o edifício, planejado para ser monumento, ter sido adaptado para sediar um museu cinco anos depois: os 150 mil itens do acervo pesam toneladas e já no primeiro ano de funcionamento, 1895, ele recebeu o número - impressionante para a época - de 40 mil visitantes. Daí para cá, o museu foi fechado quatro vezes para reformas: em 1921, de 1953 a 1955, em 1961 e em 1963. Não foi necessário fechá-lo para a última delas, nos anos 1980. A concorrência de muitos visitantes, as intempéries naturais e a má conservação ao longo dos últimos anos ameaçam a inclusão do museu entre os locais onde se comemorará o segundo centenário da Independência, em 2022.
Para evitar esse vexame, o reitor da USP, João Grandino Rodas, nomeou para dirigi-lo a arquiteta Sheila Walbe Ornstein, autora de sete livros e ex-vice-diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. E não mais um historiador, como foram todos os seus antecessores desde o primeiro, Afonso d'Escragnolle Taunay, até a última, Cecília Helena de Salles Oliveira. A tarefa dela será cuidar de uma reforma que, devido à precariedade a que chegaram as instalações, terá de ser encarada como uma reconstrução. Sua tarefa principal, segundo declarou ao repórter Edison Veiga, do Estado, será garantir que o prédio se mantenha como está. Para isso, os administradores planejam construir um anexo que dobrará sua área útil para abrigar laboratórios e reserva técnica, mantendo o prédio original apenas para exposição das peças artísticas e históricas do acervo.
Com o objetivo de dar mais conforto aos visitantes, a administração gastará R$ 21 milhões postos à sua disposição pela USP para construir rampas, banheiros e catracas, substituir a parte elétrica obsoleta e recuperar as fachadas. O sistema de segurança também será substituído para evitar furtos de peças.
A reforma do museu, contudo, demandará muito mais recursos do que os disponíveis. A diretora conta com a ajuda da iniciativa privada. "A sociedade precisa se mobilizar e nos ajudar a conseguir esses recursos", disse Sheila Walbe Ornstein. Por mais óbvias que sejam suas razões ao fazer este justo apelo, elas não podem obscurecer outra evidência: a de que a USP, uma instituição reconhecida pela excelência acadêmica no mundo inteiro, não tenha tido capacidade nem tirocínio para cuidar de um patrimônio histórico e cultural da importância da instituição centenária. Para colaborar nessa obra, sem dúvida meritória, a sociedade precisa receber da mais importante instituição acadêmica do País a garantia de que desde já o Museu do Ipiranga receberá a atenção merecida, mas que não lhe tem sido dispensada.
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