
05 de janeiro de 2013 | 14h42
Um dos projetos em andamento mobiliza prefeituras de cidades com até 50 mil habitantes para a melhoria das vias de acesso aos assentamentos, de modo a facilitar o escoamento da produção. A reforma prevê que as administrações municipais terão o maquinário necessário por meio do Programa de Aceleração do Crescimento - Equipamentos. Além disso, as prefeituras que comprarem parte da produção receberão combustível do governo federal. O envolvimento dessas prefeituras é inédito e deve alterar suas relações com os assentamentos, que até agora eram vistos como enclaves, pois os prefeitos tinham pouca influência sobre eles. O Incra calcula que somente essa medida poderá reduzir seus gastos em quase 70%.
Outra tarefa que o Incra deixará de desempenhar será a construção de casas para os assentados, que ficará a cargo do Ministério das Cidades, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida. Em dois anos, o governo espera reformar 118 mil casas e construir 70 mil. Já a responsabilidade pelo fornecimento de água a famílias no semiárido nordestino passará a ser do Ministério da Integração Nacional, enquanto a construção da rede de energia elétrica em todos os assentamentos será uma atribuição do Ministério de Minas e Energia, dentro do programa Luz para Todos.
O Incra também não será mais responsável pela seleção das famílias beneficiadas pela reforma agrária, processo que é objeto de toda sorte de pressões dos movimentos de sem-terra. A triagem passará a ser feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social, com base no mesmo cadastro usado para selecionar os beneficiados pelo Bolsa-Família e outros programas de transferência de renda.
O presidente do Incra, Carlos Guedes, considera que não se pode mais trabalhar com o cenário da época da criação do Incra, nos anos 70, em que sua função era organizar a colonização do interior do Brasil, responsabilizando-se por tarefas tão díspares como abrir estradas e construir escolas nos assentamentos. Para ele, as novas medidas terão o poder de multiplicar o orçamento do instituto, porque suas funções serão reduzidas. A mudança já é real: a verba para desapropriações, por exemplo, caiu 11,5% entre 2011 e 2012, enquanto a de assistência técnica aumentou 123%.
Por trás desse esforço, porém, há uma significativa mudança de foco na própria reforma agrária, que se traduz na estatística segundo a qual o total de famílias assentadas no governo Dilma é o menor desde 1995. A ideia é cuidar melhor dos assentados em vez de investir na criação de verdadeiras favelas rurais, que é no que se transformaram muitos dos assentamentos instalados para dar satisfação aos chamados "movimentos sociais".
O melhor sinal de que está certo o caminho escolhido para mudar o Incra talvez seja a reação do MST. Com a descentralização das tarefas relativas à reforma agrária, o grupo, que já se queixa da pouca interlocução com o governo federal, deverá perder ainda mais influência. Para o MST, Dilma desistiu de "democratizar" a terra e fez uma "opção pelo agronegócio" - como se fosse um crime apostar na produção agrícola que vá além da roça e do arado.
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