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Um plano audacioso

Espera-se que o futuro programa espacial americano possa representar um salto ainda mais gigantesco do que aquele imortalizado pelas palavras de Neil Armstrong

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Por Redação
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Quarenta e cinco anos após a última caminhada de um homem sobre a superfície lunar, façanha realizada por Eugene Cernan, comandante da missão Apollo 17, em dezembro de 1972, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um documento intitulado Space Policy Directive 1, uma ordem diretiva para que a Nasa, a agência espacial americana, lidere um programa com o objetivo de levar astronautas americanos de volta ao satélite natural da Terra; e, em plano ainda mais audacioso, um dia fazê-los pousar em Marte.

“Desta vez não se trata apenas de colocar nossa bandeira e deixar nossas pegadas. Estabeleceremos uma base para uma missão rumo a Marte e, talvez, além”, declarou Trump na cerimônia de assinatura do documento, na Casa Branca.

Espera-se que o futuro programa espacial americano possa representar um salto ainda mais gigantesco do que aquele imortalizado pelas palavras de Neil Armstrong, comandante da Apollo 11, no dia 20 de julho de 1969. Lançado pelo então presidente John F. Kennedy em maio de 1961, no contexto da guerra fria, o Programa Apollo foi concebido para realizar um dos mais antigos sonhos da humanidade: a exploração do espaço desconhecido. Tratou-se de um monumental esforço científico para desenvolver e testar tecnologias que permitissem transportar o homem até a Lua e trazê-lo de volta em segurança. São incalculáveis os avanços científicos e econômicos que resultaram de anos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico dedicados às missões espaciais.

“É fascinante a forma como as tecnologias desenvolvidas para a prospecção espacial entraram em nossas vidas”, afirmou Karina Edmonds, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em entrevista por ocasião dos 40 anos da chegada do homem à Lua, em 2009. De fato, tecnologias e aparelhos hoje corriqueiros resultaram dos esforços dos mais engenhosos cientistas com o único objetivo de dar segurança às missões espaciais. O raio laser, as lentes de contato, o forno de micro-ondas, o Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês), entre muitas outras inovações, todos são instrumentos que tornam a vida na Terra muito mais simples do que seria não fossem as pesquisas do programa americano – e dos programas de outras nações que entraram na corrida espacial.

Seria natural supor que nada mais surpreendente pudesse advir de um novo programa espacial depois de inovações que mudaram o modo de vida das pessoas de tal forma que já não é possível nos imaginarmos sem elas. Entretanto, se o objetivo do Programa Apollo era levar o homem à Lua e trazê-lo em segurança de volta à Terra, agora se espera ir além e criar os meios indispensáveis à sobrevivência do homem no espaço por tempo indeterminado, ampliando de modo inimaginável as fronteiras conhecidas pelos seres humanos, sejam físicas ou intelectuais.

Os inúmeros desafios à manutenção da vida humana em bases espaciais, como esta que os Estados Unidos pretendem construir na Lua como um entreposto para eventuais missões a Marte, seguramente levarão ao desenvolvimento de novas tecnologias que, a exemplo do que ocorreu na década de 1960, podem ter enorme impacto econômico e social nos anos vindouros.

Os novos esforços da Nasa, em conjunto com setores da iniciativa privada, podem dar azo a um círculo virtuoso de pesquisa, desenvolvimento e inovação capaz de alçar o conhecimento humano a patamares hoje inimagináveis.

As viagens à Lua foram interrompidas no início da década de 1970 por conta de seus elevados custos operacionais. De lá para cá, tanto os Estados Unidos como a Rússia, e depois a China, os principais protagonistas da chamada corrida espacial, passaram a concentrar seus recursos em missões realizadas na órbita da Terra.

Agora, Donald Trump dá um passo adiante. O futuro programa espacial americano, o mais audacioso já concebido, pode traduzir-se em um espetacular marco de seu controvertido mandato como presidente dos Estados Unidos.