
24 de maio de 2016 | 03h00
No mercado, economistas do setor financeiro e de consultorias projetam inflação ainda alta neste ano e condições muito ruins de produção, mas com possibilidade de modesta expansão em 2017. Nada de grande entusiasmo, portanto, mas o governo poderá transformar essa pequena melhora de humor num importante reforço para sua política, se for capaz de avançar, em pouco tempo, na redefinição da política econômica.
A inflação prevista pelos consumidores diminuiu em maio, pela terceira vez consecutiva, depois de 13 meses de alta, de acordo com os últimos dados da FGV. A mediana das expectativas para os próximos 12 meses caiu de 10,7% em abril para 10,3% em maio. Continua muito acima do limite de tolerância (6,5%) e da meta oficial de 4,5%, mas indica uma percepção mais favorável dos fatos.
Fatores objetivos, como o crédito farto e excesso de gasto público, são normalmente as fontes mais importantes de pressão inflacionária, mas a expectativa de consumidores e empresários também é determinante da alta de preços. Antes de iniciar uma baixa de juros, dirigentes do Banco Central (BC) devem refletir sobre como a sua decisão poderá afetar a confiança, ainda frágil, de produtores, distribuidores e consumidores.
No mercado, a inflação projetada para este ano subiu em uma semana de 7% para 7,04%, de acordo com a pesquisa semanal do BC. A projeção para 2017 continua em 5,5%, dentro da tolerância, mas acima da meta. Se as contas públicas melhorarem, chegar à meta no próximo ano será mais fácil do que parece neste momento. Por enquanto, o recuo da inflação é atribuível principalmente à recessão e à insegurança dos agentes, ainda considerável, apesar de alguma melhora de humor.
No caso da produção, as expectativas são divergentes e até as melhores previsões são ainda pouco otimistas. O Índice de Confiança da Indústria calculado pela FGV subiu 1,3 ponto de abril para maio e chegou a 78,8 pontos, nível mais alto desde março de 2015, quando bateu em 79,5. O índice de situação atual aumentou 1,9 ponto, para 81,7, e o de expectativas chegou a 76,3, com alta de 0,7 ponto. Mas o indicador continua na zona negativa, abaixo de 100. A melhora aponta, portanto, basicamente uma redução do pessimismo na avaliação dos dados presentes e do cenário futuro.
A pesquisa Focus continua mostrando uma percepção ainda muito sombria dos técnicos do mercado. A contração econômica estimada para este ano passou em uma semana de 3,88% para 3,83%, com melhora quase insignificante de 0,05 ponto porcentual. No caso da produção industrial a previsão piorou, com redução calculada de 6%. Uma semana antes o número negativo era 5,85%.
O lado mais animador do quadro é formado pelas projeções para 2017. A estimativa de aumento de 0,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) repete a da semana anterior. O crescimento previsto para a indústria subiu de 0,74% para 0,9%. Números positivos tornam o cenário muito mais luminoso, mas as bases de comparação, para o PIB e para a produção industrial, são muito baixas. Ainda haverá um longo percurso até a retomada dos níveis anteriores à recessão.
Por enquanto, o comportamento de empresários e de consumidores continua marcado por muita cautela, com baixa disposição para novos compromissos. Não se investe, pouco se consome e evita-se tomar novos empréstimos. A promessa de mudança econômica pode trazer algum otimismo, mas, além de cuidar dessa área, o governo tem de evitar novos tropeços políticos.
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