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Um roteiro para o governo

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Por Redação
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Se estiverem dispostos a assegurar condições para o crescimento rápido e contínuo da indústria e da própria economia brasileira nos próximos anos, os senadores têm em mãos um excelente roteiro de trabalho. Há dias, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, apresentou à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado os pontos principais do Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022, que estabelece metas e diretrizes para o avanço da indústria nacional, por meio do aumento de produtividade que lhe assegure ganhos de competitividade.Embora o estudo esteja voltado para a indústria, suas metas e propostas são abrangentes e, com poucas modificações, interessam a toda a economia brasileira, razão pela qual seria frutífero para o País se também outras autoridades o examinassem. Um tema tratado no documento de maneira extensa e destacada, por exemplo, é a educação, que interessa a todos, como vêm mostrando as manifestações recentes em todo o País.Um dos fatores determinantes da competitividade da indústria é a produtividade do trabalho. Quanto melhor a formação escolar, melhor poderá ser o desempenho do trabalhador, em todos os níveis. "Equipes educadas e engenheiros bem formados utilizam melhor os equipamentos, criam soluções para os problemas do dia a dia, adaptam processos e produtos e desenvolvem e implementam inovações", diz o estudo.Mas, no Brasil, a baixa qualidade do ensino básico, a insuficiente oferta de ensino profissional e as falhas do ensino superior "limitam a capacidade de inovar das empresas e a produtividade, com impactos significativos sobre a competitividade das empresas".Para que, como propõe a indústria, a produtividade média do setor se eleve da média anual de cerca de 2,3% observada nos últimos 20 anos para 4,5% ao ano entre 2013 e 2022, além da melhora acentuada da qualidade do ensino, será necessário que os investimentos em infraestrutura passem do equivalente a 2% do PIB observados atualmente para 5% do PIB.Não é uma meta inatingível. Em períodos de crescimento ainda mais rápido do que o atual, a Coreia do Sul chegou a registrar ganhos anuais de produtividade de 8%. Ainda hoje, países industrializados como França, Japão e Estados Unidos registram avanços mais rápidos do que o Brasil.Os fundamentos macroeconômicos têm de ser sólidos, para reduzir incertezas sobre o futuro e estimular a confiança do investidor, diz o estudo. Mas, nesse campo, o governo tem feito o contrário do que é desejável. Seguramente as manobras contábeis praticadas com grande frequência pelo governo para mostrar que pode cumprir a meta de superávit fiscal corroem a credibilidade de sua política e geram desconfianças. A reação confusa das autoridades ao aumento das pressões inflacionárias e às mudanças bruscas no mercado de câmbio igualmente gera incertezas.Para oferecer condições mais adequadas ao crescimento, o governo tem de gastar bem os recursos de que dispõe, planejando e executando suas políticas e seus investimentos com competência e eficiência. Só assim o País poderá dispor, com a presteza necessária, da infraestrutura que assegure competitividade ao produto brasileiro, ao contrário da disponível hoje, que eleva seus custos.Isso significa uma rede eficaz de transportes que interligue as diferentes modalidades, oferta adequada de energia, sistema eficiente de transmissão de dados em alta velocidade e infraestrutura urbana melhor, inclusive com a universalização dos serviços de saneamento básico.São, como se vê, ações e políticas de que carece não apenas a indústria brasileira, mas todo o País. O setor privado tem uma parte da responsabilidade nesse conjunto - que, para a indústria, inclui os fatores-chave da competitividade -, mas a grande tarefa é do setor público. É dele que dependem os principais programas na área de educação e infraestrutura. É dele também que depende a manutenção do ambiente adequado para o crescimento.